segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

BRASIL: BREVE ANÁLISE DE SUA MODERNIZAÇÃO ECONÔMICA.

Moacir J. M. Pereira 


1 – Introdução:

            O Brasil como país em desenvolvimento econômico, que hoje tem grande destaque no cenário econômico internacional, passou por várias fases em sua organização socioeconômica. De “ilhas” produtivas representadas pelo isolamento e falta de fluxo entre regiões para um país interligado através de redes de transporte e de produção, integrando regiões econômicas e desenvolvendo de forma desigual e combinada as mesmas. Resultado de políticas públicas somadas aos interesses de capitais nacionais e estrangeiros em diversas crises e reorganizações do capital a nível global.

            Neste trabalho faremos um breve estudo sobre o desenvolvimento da economia nacional. Buscaremos demonstrar como se deu tal processo e as formas diferenciadas nas diversas regiões geo-econômicas. O certo é que apesar de todo seu desenvolvimento econômico e produtivo em diversos setores da economia nosso país apresenta ainda grandes carências e desigualdades regionais motivadas pelo desequilíbrio histórico de desenvolvimento sócio-espacial, dependendo das políticas públicas e relações espaciais de produção e conflito.

            Partiremos das heranças históricas dos ciclos econômicos, passando pela industrialização inicial, a substituição das importações, o fortalecimento da indústria nacional e de suas bases produtivas, as eras de Vargas, Juscelino, período militar, as políticas neoliberais até a indústria brasileira do século XXI.






1)      Um exercício de periodização.

Para podermos compreender os processos que levaram à modernização da economia brasileira devemos ter em mente uma periodização geográfica e temporal. Buscamos então em Santos & Silveira(2001) esta periodização. Segundo os autores foram feitas periodizações, com bases de análise econômica, histórica, social etc.. Estes autores demonstram algumas periodizações através de análise de Caio Prado Jr. (análise histórica); Celso Furtado (análise econômica); Florestan Fernandes (análise cultural) entre outros. Entretanto demonstram que a periodização para a geografia deve estar sob a luz da sucessão de meios geográficos. Desta forma definem três momentos: os meios “naturais”, os meios técnicos e o meio técnico-científico-informacional.

Procuraremos enquadrar aqui, de forma breve dentro desta sucessão de meios geográficos os ciclos econômicos, as fases de substituição de importações, o período neoliberal e a atual globalização da economia brasileira com o Brasil potência dentro do G77 (Grupo dos países em desenvolvimento) e do BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China). Vale ressaltar que não existe período ou ciclo com data de início ou fim, apenas uma “periodização necessária” para fins pedagógicos. Conforme Manoel Correia de Andrade (apud. Santos & Silveira, 2001): “A periodização em ciclos – pau-brasil, açúcar, ouro e diamantes, algodão etc. – proposta e discutida por vários autores, não é realista, ... pois a exportação de um produto continuava no ciclo seguinte como um produto menos expressivo.”  Assim também aproveito para expor que nosso país possui sobrepostos vários meios geográficos no tempo e no espaço. Tempos lentos e tempos rápidos em um mesmo território que articula, combina e exclui.

O Brasil teve em seu período colonial sua economia totalmente direcionada pela metrópole portuguesa. De 1500 até 1822 havia um total controle de instalação de estabelecimentos econômicos no Brasil colônia. Tal fato derivava do interesse português em evitar que produtos que viessem a ser produzidos no Brasil concorressem com os de Portugal. Além de garantir um mercado consumidor. Desta forma a economia desenvolvida aqui durante este período e até um pouco mais além era de base agro-exportadora. Produtos como pau-brasil e drogas do sertão no séc. XVI, cana-de-açúcar no séc. XVII, mineração no séc. XVII e XVIII e café no séc. XVIII e XIX foram importantes na economia brasileira. E continuam sendo.   

De acordo com Santos & Silveira (2001) o meio natural, é marcado pelos tempos lentos onde o império da natureza regula as ações antrópicas. Toda ação humana estava em busca de adaptação ao meio natural, sem grandes ingerências sobre o mesmo. Neste período de escassos recursos técnicos para o domínio sobre o espaço e também a falta de conhecimentos sobre as características dos lugares e recursos neles existentes por parte dos colonizadores não facilitaram em um primeiro momento grande desenvolvimento econômico. Todavia podemos perceber que não se pode definir como um meio natural apenas, mas como um meio pré-técnico onde as técnicas para usos e apropriação do território ainda não possibilitavam maior inserção e domínio sobre a natureza. Desta forma, estes primeiros tempos de ocupação do território, por parte dos colonizadores, se dera inicialmente ao longo da costa brasileira, em contato com as populações nativas e posteriormente com uso da força escrava vinda da África e por vezes indígena foram impondo o comércio e os usos dos espaços nas várias regiões da colônia. Veremos agora algumas regiões e as culturas produtivas e explorações das mesmas:

Demétrio Magnoli (2008), fazendo seus estudos sobre a formação sócio-econômica do país define que em um primeiro momento o território brasileiro é desarticulado. Ou seja, ouve o surgimento de regiões econômicas praticamente autônomas que se articulavam com mercados consumidores da Europa.  Como se sabe, no início da colonização portuguesa ouve maior ocupação do litoral nordestino. Desenvolvendo-se nesta região raízes socioeconômicas que dão à região suas características próprias à diferenciando do restante do Brasil.  A cultura do gado, se desenvolveu nesta região assim como a busca por metais preciosos, entretanto com a implantação da economia canavieira estas primeiras atividades econômicas foram ganhando os sertões através do vale do rio São Francisco. O Bandeirantismo no sudeste em busca de metais preciosos e apresamento dos indígenas. Na Amazônia a colonização se dera pelas busca das drogas do sertão pelo vale amazônico. Desde já se pode perceber uma tendência à diferenciação pela forma de exploração destas regiões. Poderíamos até mesmo arriscar em fazer um paralelo, mostrando o que poderiam ser as bases para a formação dos complexos regionais, de acordo com o geógrafo Pedro Pinchas Geiger. Diferenciação que se dará principalmente pela articulação entre os lugares através dos fluxos e redes de integração à serem desenvolvidas e pelos usos do território.

De acordo com Magnoli(2008), “No Sudeste, a região exportadora de café expandia-se do vale do Paraíba rumo ao Oeste paulista. No Nordeste, modernizava-se o complexo açucareiro da faixa costeira e surgia uma ampla área interior exportadora de algodão. Na Amazônia, sobre o pano de fundo tradicional da exploração das “drogas do Sertão”. Emergiam áreas dedicadas à exportação da borracha natural”.

Formaram-se então as “ilhas” ou arquipélagos econômicos exportadores, desarticulados. O que não favorecia uma possível integração do território.

A organização econômica e territorial do Brasil no século XIX se encontrava então da seguinte forma:
- Região amazônica: Busca por drogas do Sertão e produção de borracha natural (Belle Époque), articulada pelos rios e igarapés da região que permitiam a comunicação entre as localidades. Produção pecuária no arquipélago do Marajó;
- Região nordeste: Produção de cana no litoral, fumo, algodão, pecuária, cacau entre outros, pouco articulada com fraca comunicação interna;
- Região Centro-Sul: Apresentando maior articulação e integração graças ao café e a rede de ferrovias que se instalavam. Produzia café, cana, algodão, ouro e diamante etc..

Temos então um panorama do Brasil em fins do século XIX. Podendo observar que através da ocupação da costa, a criação de vilas que posteriormente serão importantes entrepostos de exportação e de articulação da hinterlândia com o mercado externo, se forma uma base importante para o início da industrialização do Brasil, já independente de Portugal, porém não do mercado internacional. Principalmente no período republicano no sudeste, onde a região de São Paulo e Rio de Janeiro vão despontar neste cenário. Partimos então do meio natural ou pré-técnico para um meio técnico.


2)      Café, trem, vapor e eletricidade: a técnica sobre o território.


O crescimento econômico pela valorização do café brasileiro no mundo permitiu um maior desenvolvimento da região produtora, no caso a região sudeste. A articulação entre áreas produtivas e o escoamento da produção e o litoral exportador se deu através do desenvolvimento de um malha ferroviária importante. Com a crise do café muitos investimentos foram direcionados então para a formação de uma indústria nacional. A crise de1929 diminui a venda e exportação do café.

São Paulo e Rio de Janeiro já apresentavam poucas indústrias que foram ganhando força com investimentos dos antigos barões do café, além de possuir uma considerável infra-estrutura ferroviária e mão de obra de imigrantes que iam se incorporando às indústrias que seriam criadas para suprir o mercado consumidor interno em plena crise econômica mundial. O meio técnico já despontava. Em 1930, com Vargas, o território nacional começou a ser integrado, articulado. Investimentos do Estado iriam definir de vez a tendência nacional em ser um país industrializado. Optou-se pelas rodovias. Foram feitos grandes investimentos na produção de base. Criação da Companhia Siderúrgica Nacional. O Brasil articulado, já iniciava seu desenvolvimento desigual e combinado.

Novas relações espaciais iam criando suas marcas. Fluxos migratórios, disparidades regionais, exploração de mão-de-obra barata nas indústrias, crescimento urbano sem freios. O Brasil se moderniza, pagando o preço com crescimento urbano desordenado, dívida externa, êxodo rural, conflitos políticos e de poder.

Santos & Oliveira (2001) expõe: “O aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e as novas formas de participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiram às cidades beneficiárias aumentarem seu comando sobre o espaço regional, enquanto a navegação, muito mais importante para o exterior, apenas enseja um mínimo de contatos entre as diversas capitais regionais, assim como entre os portos de importância. Rompia-se, desse modo, a regência do tempo “natural” para ceder lugar a um novo mosaico: um tempo lento para dentro do território que se associava com um tempo rápido para fora. Este se encarnava nos portos, nas ferrovias, no telégrafo e na produção mecanizada.” O Brasil obedecendo aos interesses do capital.

Com a era Vargas(1930-1945) veio o fortalecimento das infra-estruturas, CSN, Companhia Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Motores, Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e a Petrobras.  O País se afirmava com sua indústria nacional de base, com um governo protecionista.

 Juscelino (1965-1960) incentiva a produção energética do país, a malha rodoviária e abertura a investidores estrangeiros. Com sua política de desenvolvimento econômico entraram no país montadoras como a Volkswagen, indústrias de eletroeletrônicos entre outras, como na área de alimentos. Estas empresas, por encontrarem vantagens locacionais e possuirem tecnologia e preços muito competitivos derrubavam as indústrias nacionais, por vezes as adquirindo e controlando o mercado interno. Este período ficou conhecido como “substituição das importações”. Marcando uma etapa da industrialização brasileira. O modelo do “tripé”, capital do Estado, capital nacional e de empresas privadas estrangeiras.

O meio técnico-científico se estabelece. O Brasil possui um parque industrial importante, onde sua economia se moderniza saindo do modelo agro-exportador para um país industrial. Apesar de adquirir por vezes tecnologias ultrapassadas. A partir da década de 60 o país passa por um período conturbado no cenário político, em 1964 os militares tomam o poder, dissolvem o congresso e lidam a política com mão de ferro eliminando direitos políticos e perseguindo cidadãos contrários à suas ações. O Brasil passava pela ditadura militar.

Durante o domínio militar o país teve uma grande produção industrial. Conhecido como “milagre econômico” o país aumentou seu Produto Interno Bruto. Entretanto a custas de empréstimos internacionais. Criando um verdadeiro abismo e paradoxo entre o crescimento econômico nacional e as desigualdades sociais. Devido aos grandes empréstimos assumidos, investimentos nas áreas sócias, de educação, saúde, habitação ficaram prejudicados pelas dívidas com instituições financeiras internacionais como Banco Mundial e FMI. Com o retorno ao governo civil, o país, por consequência  deste “desenvolvimento endividado”, passou pela “década perdida” com níveis inflacionários altíssimos, crise social e retração da produção industrial.


3)      O Brasil no mundo, o mundo no Brasil: a globalização.


O meio técnico-científico-informacional tem sua essência nas novas tecnologias baseadas em avanços científicos e nas telecomunicações. O Brasil entra na era da globalização. A partir dos anos 90, medidas econômicas neoliberais seriam tomadas no país, desta forma alinhando o Brasil aos interesses internacionais e às “leis” impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial. As políticas de “desoneração do Estado” pela privatização de indústrias nacionais, a transnacionais tinham ainda maior controle no mercado mundial, CSN, Vale do Rio Doce.

O país ficou com seu mercado interno aberto para empresas globais. Entretanto também vem desenvolvendo ações em outros países. Tendo despontado no mercado internacional de aviação civil e do petróleo. O Brasil nos últimos anos apresenta uma boa modernização de seu parque industrial, tem desenvolvido sua produção agrícola com tecnologias de pontas, investindo em pesquisa e em universidades. Muitos acordos econômicos, fortalecimentos de sua produção de uma pequena melhoria no poder de compra de sua população tem aquecido o mercado interno. Fazendo com que o país tenha suportado as constantes crises internacionais.

O país tem mostrado uma crescente modernização de sua economia, restando ainda fazer o “dever de casa” com questões ligadas à corrupção, divisão da riqueza e desigualdades regionais. Milton Santos define que o país possua uma região concentrada, ou mais “luminosa” pela grande parque industrial, de serviços e comércio. Que é a região sudeste, com maior ênfase em Minas Gerais, são Paulo e Rio de Janeiro. A Região Sul possui a agroindústria e de produção de insumos agrícolas bem desenvolvida, despontando como a segunda região mais desenvolvida. Pelos grandes incentivos fiscais oferecidos pelos estados nordestinos, o nordeste tem mostrado grande crescimento industrial. Investimentos na área têxtil, celulose, alimentos, bebidas, automobilísticas etc.. A região Centro-Oeste tem se desenvolvido com a agroindústria e a produção de alimentos. A região norte se destaca na mineração, na produção de energia, agroindústria e madeireiras.

Nosso país hoje é considerado um país em desenvolvimento, se destacando na economia mundial e no cenário geopolítico. Contendas comerciais, disputas por mercados, barreiras e protecionismo são “regras” do jogo de relações internacionais que vem bloqueando um maior desenvolvimento nacional, principalmente na produção de alimentos e aviação civil. Entretanto a economia e o parque industrial nacional esta se modernizando graças a investimentos estratégicos na área de pesquisa e desenvolvimento e na participação de capital nacional e estrangeiro no país. Tornando o país competitivo no comércio internacional. Porém esta abertura econômica tem vários riscos como a dificuldade de controle da economia pelo grande número de atores e empresas internacionais atuando no mercado. Assim como a crise do emprego que tem se mostrado forte apesar de nos últimos anos ter apresentados baixas no índice de desemprego.


4)      Conclusão:


Podemos então perceber que a modernização da economia e da indústria brasileira teve suas origens na produção cafeeira e nos investimentos em transporte da produção da hinterlândia para o porto de Santos. Entretanto com a crise de 1929, os capitais foram direcionados para a industrialização, principalmente na região sudeste. Na era Vargas e de Juscelino os governos investiram na indústria nacional de base criando condições para o fortalecimento da economia, confirmando a transição de uma economia agro exportadora para industrial, tendo um grande crescimento das cidades e migrações pelo êxodo rural entre regiões.

 O governo militar estimulou o crescimento principalmente na indústria bélica, energia  e estradas, entretanto, abriu as portas para uma grande crise social e econômica. As diretrizes neoliberais abriram o mercado interno para o mundo, o país abre suas portas para a globalização da economia, transnacionais e privatizações. O país se torna competitivo se destacando no comércio mundial apesar da crise energética em 2001.

O Brasil possui um parque industrial moderno, concentrado na região sudeste. Motivado pela articulação dos meios de comunicação e transporte mais intensos nesta. O país ainda precisa repensar seu desenvolvimento de forma a dividir melhor os investimentos nas regiões permitindo um crescimento econômico mais equilibrado em todo seu território. O que só será possível através de melhores oportunidades de educação, saúde, trabalho e moradia para toda a população permitindo melhorias no mercado interno com poder de compra fortalecido. Melhor infra-estrutura de transporte adequada à cada região, como no caso da Amazônia. Assim tendo sua economia fortalecida fazendo com que este conceito de modernidade não atropele as populações menos favorecidas.

Em suma, a economia nacional e sua modernização estão vinculadas fortemente às influências internacionais desde o século XVI até os dias de hoje.


5) Referências bibliográficas:

                                                                                                                  
DEMÉTRIO, Magnoli. Geografia para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2008.

SANTOS, Milton & SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 3a Edição. Rio de Janeiro: Record, 2001.

SCHEENBERGER, Carlos Alberto. Minimanual compacto de história do Brasil. 1a Edição. São Paulo: Rideel, 2003.

TÉRCIO, Lúcia Marina e. Fronteiras da globalização: Geografia geral e do Brasil. 1a Edição. Editora Ática, 2005.

Tempo e espaço geográfico, volume 2. / Nelson Ney Dantas... [et al.]. São Paulo: Pearson    Prentice Hall, 2010.



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