segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

LIMITAÇÕES AO USO AGROPECUÁRIO DAS TERRAS FIRMES NA AMAZÔNIA E TRANSFORMAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO TERRITÓRIO DO BAIXO TOCANTINS

LIMITAÇÕES AO USO AGROPECUÁRIO DAS TERRAS FIRMES NA AMAZÔNIA E TRANSFORMAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO TERRITÓRIO DO BAIXO TOCANTINS


Paulo Fernando da Silva Martins, Moacir José Moraes Pereira, Francinaldo Ferreira de Matos, Bruno Ribeiro da Silva Júnior, Andreia Cristine Scalabrin

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Resumo: Na Amazônia, é possível promover o uso das terras, de forma aceitável, através de uma gestão compatível com a fertilidade do meio natural. Para isso é necessário que, por um lado, se conheça as relações entre as formas de uso e o meio ambiente e, por outro, as características do meio natural e as condições dos utilizadores desse meio. Estudos que relacionam, através de metodologias econômicas e estatísticas, o valor bruto da produção, em diversas expressões temporais e espaciais, com dados sobre crédito de fomento e produção de C & T, considerando o conjunto de estabelecimentos de agricultura familiar, indicam para estes a existência de um fraco ambiente institucional. Apesar desse ambiente desfavorável, o fomento praticado inicialmente pelo FNO e depois pelo PRONAF, permitiram a transformação de sistemas de produção com a inclusão de culturas permanentes, pecuária de corte e pecu- ária de leite. A silvicultura e a pecuária de leite são, na Amazônia, as produções que associam maior possibilidade econômica de expansão com capacidade endógena de desenvolvimento. A pecuária de corte, que tem maior expressão no grupo patronal, é a que tem menor capacidade endógena de desenvolvimento. No Território da Cidadania do Baixo Tocantins os sistemas de produção agrícola mais importantes são os de cultivos temporários e de cultivos permanentes. Os cultivos temporários na terra firme, pela dificuldade de intensificação nos moldes da agricultura industrial, não constituem a melhor opção para os agricultores familiares. Por outro lado, existem, já acumulados, procedimentos de base agroecológica, que constituem inovações, que vêm sendo difundidas por ONGs. São exemplos: a proteção do solo com a “palhada” dos cultivos; a manutenção das capoeiras ou a introdução de sistemas de produção, como os sistemas agroflorestais, a horticultura, a fruticultura e a apicultura, conforme são praticados hoje por diversos agricultores incentivados pela Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes. Estes procedimentos permitem a intensificação do trabalho, sendo mais compatível com a manutenção da biodiversidade e da biomassa, e que tem um menor efeito na degradação do solo, além de maior capacidade de expansão por atenderem a mercados urbanos regionais. Palavras-chave: Uso da terra, Ambiente institucional, Organizações não governamentais, Extensão rural, Agroecologia

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Região na Geografia: Sua evolução.

A Região na Geografia: Sua evolução.

Moacir José Moraes Pereira
           

INTRODUÇÃO

            O objetivo deste trabalho é mostrar o que significa a palavra região, como esta se torna uma categoria de análise geográfica e quais os usos dados à este termo/categoria de análise na geografia.
            Primeiramente buscaremos discutir qual a origem deste termo e se o seu significado/função se alterou ao longo da história das sociedades. Em um segundo momento pretendemos mostrar como o termo região foi apropriado pela ciência geográfica, tornando-se uma das categorias de análise sócio-espacial. Seguindo com o texto, também buscaremos demonstrar a relação com a evolução do pensamento geográfico.

QUAL ORIGEM DA PALAVRA REGIÃO?

            De acordo com Corrêa in Amorim (2007), a palavra região teve origem/função político-territorial, sendo um termo que deriva de regio, do latim, o qual definia as unidades administrativas do Império Romano, advindo do verbo regere que significa governar.

            Podemos encontrar ainda em Amorim (2007), citando um texto de Haesbart (2010), uma referência à obra Dictionnaire Étimologique de la Lange Latine (Ernout; Meillet, 1967), onde entende-se que o termo regio tem sentido de repartir, delimitar, faz relação a bairro, região.

            No dicionário Larousse da Língua Portuguesa Mini (2005), região tem origem dos termos latinos regio, regionis, definindo: “1. Extensão territorial. 2. Conjunto de áreas vizinhas que apresentam características naturais (clima, vegetação, etc.) e/ou humanas (população, economia, etc.) semelhantes. 3. Circunscrição administrativa bastante extensa. 4. Parte do corpo.”.

            Em Lucci e Branco (2010), uma obra de ensino de geografia, observamos termo região apresentando-se pela ação, ou processo de regionalização, posto como percepção ou decisão humana de criar e/ou perceber regiões, expõe desta maneira:

“Determinadas áreas da superfície terrestre apresentam características naturais, históricas, culturais, sociais e econômicas que estão relacionadas entre si. Cada área dessas podemos denominar de região “
Lucci e Branco (2010)

Estes autores ainda aprofundam escrevendo:

“Há diversas formas de regionalizar o espaço mundial. Pode-se por exemplo, dividi-lo com base nos continentes: América, Ásia, Europa, África, Oceania e Antártida; ou a partir dos níveis de desenvolvimento econômico e social dos países: desenvolvidos e subdesenvolvidos. Assim, a regionalização é a divisão do espaço geográfico em regiões, em partes menores, de aspectos naturais, culturais e socioeconômicos comuns”
Lucci e Branco (2010)

A REGIÃO NA GEOGRAFIA

            A região e seu processo de criação pelas políticas dos diversos governos e estratégias do capital são denunciados por Santos (2011), quando escreve no capítulo Planejando o Subdesenvolvimento e a Pobreza:

“A ciência regional e o planejamento eventualmente se fundiram. Hoje é praticamente impossível encontrar em periódicos especializados um artigo teórico ou mesmo uma análise sobre o espaço social visto como um todo.”
Santos (2011, p.21)

            Amorim (2007, p.3) nos leva a refletir sobre a função política da regionalização apoiando-se em Milton Santos, reforça a denúncia do processo de regionalização como ferramenta de apoio para a acumulação capitalista, criando, abundância e escassez, dividindo e especializando o território de acordo com os interesses dos Estados e Capital, formando o desenvolvimento desigual e combinado.

            Para este autor a expressão região tem sido empregada por várias ciências, como também, pela sua incorporação nas sociedades ao longo dos tempos, já faz parte do senso comum, sendo assim uma referência a lugares que se assemelham ou que se diferenciam uns dos outros. O autor escreve, “A categoria região é de uso corrente, está disseminada na linguagem comum e na científica. Ela foi incorporada no nosso dia-a-dia e possui um peso específico na estrutura conceitual.” Amorim (2007).

            De acordo com Lencioni in Amorim (2007), pode-se considerar que Estrabão fora “a nascente” de que se poderia definir com uma geografia regional, pois, de acordo com a autora, o mesmo utilizava-se de diferenciações territoriais para o estudo das civilizações.

            O estudo das regiões desde a origem da geografia como ciência, se vincula às diversas formas de se buscar entender o espaço, em diferentes escalas, em diferentes momentos históricos. A geografia como ciência destacou a importância do estudo da região.

            Alguns autores destacam que a consolidação do estudo da região e esta como categoria geográfica, representou, e faz um importante paralelo, com a própria evolução do pensamento geográfico. Esta importância da análise pela região passou da geografia clássica com La Blache, Ratzel, até mesmo Kante (Carvalho, 2002, p.3), a nova geografia, com Hartshorne, a geografia crítica, a geografia humana, a geografia cultural e também com “as geografias pós-modernas” com Edward Soja por exemplo, vão nos mostrar esta evolução.

            Na geografia clássica podemos encontrar a definição de região natural de Ratzel e seu contraponto pela região geográfica de La Blache, este último definia que ao geógrafo seria importante descrever para entender as características da região.

A “EVOLUÇÃO DA REGIÃO”

            Para Carvalho (2002), quando o elemento homem ou sociedade passa a ser considerado, quando a relação homem e ambiente se faz presente, que a análise regional inicia a sua complexidade. Esta autora expõe que Hartshorne define que a região se dará pelo contructo do pensamento humano, pelo o que se que perceber, pelas entidades sócio-espaciais que se quer estudar, assim contrapondo-se à região concreta de La Blache.

            Percebe-se assim, um salto qualitativo para o próprio conceito de região, “evoluindo” ousamos. Na Nova Geografia, Carvalho (2002), dá-se a região a condição de ferramenta de estudo, baseando-se em métodos estatísticos, matemáticos, a região serve para assim dizer, atividades, objetivos políticos e administrativos dos estados. Conforme a autora nasce a tendência a classificação das regiões em “homogêneas, funcionais polarizadas, administrativas de forma sistemática. Constroem-se regiões cristalizadas no tempo e no espaço”.

            Na Geografia Pragmática, a região é preenchida pela ideologia da dominação capitalista, de “ordem e progresso” dos Estados-Nações. Em oposição na Geografia Crítica a região aparece como um mecanismo de ação política na intervenção do espaço (Carvalho, 2002).
            Avançando na análise encontramos ainda em Carvalho (2002)  a percepção de região na Geografia na atualidade, definindo que não haveria uma padrão para a análise regional, ou corrente específica, mas uma pluralidade de percepções, diversas possibilidades em função dos processo técnicos-científicos-informacionais (Milton Santos) da globalização, é o momento do simultâneo, obedecendo-se as escalas de análise, o estudo regional pode ser então privilegiado.

CONCLUSÃO
            Podemos, desta maneira, perceber que as formas de abordar a categoria região, na geografia tem sua relação direta com o momento histórico e as correntes geográficas e científicas como um todo.  Assim o conceito de região fora analisado e questionado por importante geógrafos que contribuíram para sua formulação, desconstrução e reformulação. No pensamento de La Blache a região era uma realidade concreta, um “corpo vivo” pré-existente que deveria ser descrito. Para Hartshorne era fruto da construção sócio-espacial, origem do conceito de espaço geográfico, tendo influência de quem faz a análise ou a regionalização. Corrêa in Amorim (2007), a região fica associada a diferenciação de áreas, sendo este, construído e reconstruído ao longo da evolução das sociedades, assim sendo um conceito-chave do moderno pensamento geográfico tal qual paisagem, espaço, lugar e território. Completa que esta é criada por um objetivo claro de gestão ou percepção dos espaços. Para a Geografia Crítica podemos perceber a região para a análise e denúncia das desigualdades sociais e regionais nos países.
            Amorim (2007) escreve: “Parece-nos que nem todos os recortes regionais podem ser caracterizados, de fato, por regionalizações, pois o que pudemos constatar em nosso trabalho, é uma mesma identidade territorial, marcada por uma divisão do trabalho, por características culturais, de ordenamento do território que perpassa os recortes estudados. Esta identidade territorial, como já destacado por vários dos autores supra-citados é elemento importante na definição das regionalizações.” A região desta forma não possui fórmula ou modelo de construção, independe de método pronto, a região pode e dialogar com outras categorias como o território em sua característica de afirmação de populações, com a cultura, com a paisagem. De acordo com Amorim(2007), é através da região que se faz possível a territorialização do Estado, através do ordenamento para implantação das políticas públicas e de gestão do espaço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

            Carvalho, Gisélia Lima. Região: A evolução de uma categoria de análise geográfica. Boletim Goiano de Geografia, volume 22, nº 01, jan/jun 2002.
            Amorim, Cassiano Caon. Discutindo o conceito de região; Estação científica Online; Juiz de Fora, nº 04, 2007.

            Lucci, Elian Alabi & Branco, Anselmo Lázaro. Geografia: homem e sociedade. São Paulo, Saraiva, 2010.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

BREVE ESTUDO DA RELAÇÃO SOCIEDADE E NATUREZA

Moacir J. M. Pereira 


  Introdução

            O presente trabalho propõe expor de forma breve as relações existentes entre sociedade e natureza, sua evolução temporal e suas contradições. Buscamos, através de levantamento bibliográfico, o conceito de natureza, ambiente, meio ambiente e recursos naturais, de forma a contribuir com a discussão atual da relação homem x natureza.  O que se mostrou durante a pesquisa, foi que para muitos autores, em se tratando de desenvolvimento econômico e social, há necessidade de se analisar sociedade e natureza de forma integrada, indissociável, não que a natureza dependa da sociedade, mas que o inverso se faz verdadeiro. Uma verdadeira contradição estabelecida pelo Modelo de Desenvolvimento Econômico predominante, onde se busca sempre aumentar o consumo para desta forma aumentar a produtividade, tem levado à escassez dos recursos naturais, em suas diversas representações, influenciando na expansiva degradação ambiental em nível global. O que observamos é uma forte ligação entre o consumo e a degradação ambiental e por sua vez social. A homogeneização das práxis urbana, do consumismo desnecessário é um verdadeiro convite ao caos.
           

A Natureza

Quais são os conceitos existentes sobre natureza? De acordo com Neto (2010), quando se desenvolve uma ideia do que venha a ser natureza logo se tem a imagem dos animais, dos cursos d´água, das plantas etc. O que se observa, de acordo com o autor, é uma separação do homem e da natureza, entretanto o mesmo alerta que há necessidade de pensar a sociedade como parte da natureza, e ainda destaca que “basta lembrar que nosso organismo é composto por água e minerais”. De acordo com o mesmo autor vale salientar que ao entender o homem inserido no conceito de natureza, se rompe a dicotomia sociedade x natureza, assumindo-se um entendimento mais amplo, e adequado à realidade atual, indo “além da dimensão natural/ecológica” para “a dimensão social, econômica, cultural e política”.
Uma importante análise do que venha a ser natureza é quando se observa à luz do tipo de sociedade que vem a construir este conceito, ou melhor, do tipo de ideologia que vem tratar do tema. Assim a natureza, é um conceito humano, como bem afirma Lenoble in Dulley (2004), “não existe uma Natureza em si, existe apenas uma Natureza pensada. (...). A natureza em si, não passa de uma abstração. Não encontramos senão uma ideia de natureza que toma sentido radicalmente diferente segundo as épocas e os homens”. Assim Dulley (2004) completa, “o significado da natureza não é o mesmo para grupos sociais de diferentes lugares e épocas na história. A natureza é pensada, a partir de relações sociais”.
As realidades materiais das sociedades, assim definidas pelas suas capacidades técnicas de fazer uso do meio, controlar situações naturais ou mesmo ter domínio sobre o meio, ao longo da história das sociedades humanas, vão tecendo a forma e o olhar humano sobre a natureza. De acordo com Neto (2010), “Cada sociedade constrói seu conceito de natureza de acordo com sua realidade socioeconômica e cultural. As sociedades primitivas possuíam uma relação de respeito e um temor devido, principalmente, à dependência e uso dos recursos naturais para subsistência”. Já nas sociedades modernas temos percepções bem diferenciadas devido ao processo de evolução do conhecimento humano, que vai apoiado por processos históricos marcantes como a Revolução Neolítica, o surgimento dos aglomerados urbanos, as revoluções burguesas, a expansão do conhecimento sobre novas áreas do planeta, as técnicas agrícolas, as trocas comerciais, a acumulação de metais, o iluminismo, as revoluções industriais, os Estados Nacionais, as grandes guerras, entre outros fatores que se buscarmos aprofundar nosso olhar estão sempre ligados ao domínio do homem sobre a natureza. Natureza entendida como domínio, recurso, expansão, mercado. 
Aqui podemos citar Milton Santos, com sua abordagem sobre o espaço geográfico, partindo do meio natural, passando pelo meio técnico, técnico-científico e chegando aos dias de hoje no meio técnico-cientíco-informacional. Lembramos aqui também do geógrafo Ruy Moreira, em palestra proferida na UFPA, no encontro de Geografia em 2012 onde citou Milton Santos e sugeriu, salvo engano, que estamos em um meio técnico-científico-bio-informacional, devido aos avanços da genética e seus usos comerciais na produção de alimentos e saúde, por mais redundante que nos possa parecer o cunhar deste termo, é coerente por marcar uma nova era, onde o mercado se apropria dos avanços científicos da biotecnologia para ganhar novas fronteiras, tal qual a Revolução Verde, tocada por Mazoyer & Roudart (2010, Edição UNESP) que denunciam a crise contemporânea da produção agrícola.
Assim como bem percebemos o conceito de natureza, socialmente construído, por vezes excluí o Homem. Seria tudo aquilo em que o homem não teve relação em sua criação. Entretanto existe um olhar que define as sociedades como entidades naturais, ou seja, pertencentes à natureza e dela dependente diretamente para sua manutenção e reprodução quanto sociedade.
Podemos ver em Art (1998) in Dulley (2004), o conceito de natureza como “termo genérico que designa organismos e o ambiente onde eles vivem: o mundo natural”, por muitas vezes, observamos ser usado como sinônimos os termos, natureza, ambiente, meio ambiente, recurso natural. Este mesmo autor expõe as diferenciações conceituais, sendo: Ambiente “o conjunto de condições que envolvem e sustentam os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte desta, abrangendo elementos do clima, solo, água e de organismos”. Aqui fica clara a relação de totalidade, o que na geografia entendemos como geobiocenose. Meio ambiente “soma total das condições externas circundantes no interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto existe. O meio ambiente não é um termo exclusivo; os organismos podem ser parte do ambiente de outro organismo”. Aqui há referência à grupos específicos, em que condições específicas lhe favorecem à vida e reprodução.

O conceito de recurso natural é fundamentado como algo que existe em meio natural e que poderá ser utilizado para determinado fim social. Ao exemplo das águas, dos solos, das plantas, dos animais, dos ventos, da luz do sol entre outros. Entretanto como bem sabemos estes recursos, são definidos em renováveis e não renováveis, e justamente os recursos não renováveis tem sido motivo de diversos conflitos internacionais, motivando guerras entre nações.
Assim como bem entendido a natureza fica subjugada, tendo o homem como centro, e para tal deve servir aos seus interesses “sociais de desenvolvimento”. Neto (2010) cita que no Modelo de Desenvolvimento Econômico adotado pela maioria dos países os elementos naturais são vistos simplesmente como matéria-prima. E que uma sociedade para se sustentar dentro deste modelo deverá ter em sua escala de valores os bens materiais como representação de “progresso, desenvolvimento e status social”. Entretanto com a tomada a tomada de consciência dos limites de usos dos recursos naturais, a partir do documento Limites do Crescimento, começa-se a discutir mais sobre o uso da natureza como recurso.
Com o domínio das técnicas a sociedade ocidental põe a natureza ao seu total dispor, entendendo-a como um recurso ao seu desenvolvimento econômico, garantindo através dela sua matriz energética (carvão em um primeiro momento e petróleo em outro), e também subjugando nações e gerando diversos conflitos por recursos para o desenvolvimento econômico forjado à luz dos interesses Capitalistas. O que não exclui os ex-países de economia planificada. Faço aqui um convite ao leitor, observando bem de perto, e trazendo até os dias de hoje, quais conflitos bélicos que se desenvolveram entre os diversos países do globo, e ainda se desenvolvem, não tem relação com o uso de recursos naturais? Difícil , para o geógrafo, não ter uma vaga lembrança de Ratzel e Lacoste (apesar de tão antagônicos). Um trabalho que mostra bem este ponto de vista que relaciona conflitos armados com busca de recursos naturais esta em Renner (2002) in Quental(2003), que faz uma relação de conflitos armados e suas causas relacionadas ao domínio de determinados recursos naturais. O autor cita uma relação de conflitos bélicos e seus reais motivos: 1992-2001, Angola, diamantes; anos 90, Serra Leoa, diamantes; Fim da década de 90, Libéria, madeira; desde 1999, Sudão, petróleo; 1999 a 2000, Ruanda, tantalite-columbite; 90-2001, Afeganistão, lápis-lazúli; 90, Cambodja, madeira; entre outros. E a questão do carvão mineral na Alsácia-Lorena? E a questão do petróleo nos dias atuais? Todos estes são pontos importantes que devemos considerar na relação sociedade e natureza, a natureza como recurso econômico nestes casos.


O que se percebe é que se busca manter, ou atingir, um Modelo de Desenvolvimento Econômico em que as nações tenham maior produção e maior mercado consumidor, a qualquer custo. Sabemos que este padrão de desenvolvimento está sendo questionado por diversas instituições internacionais, movimentos sociais, ONGs, todos estes engrossando o discurso de desenvolvimento sustentável. A partir da década de 60-70 alguns discursos começaram a se preocupar com a questão ambiental, após a publicação do relatório Limites do Crescimento, ficou em foco que o padrão até então observado de crescimento estava inviabilizado. O planeta Terra não possui a capacidade de recuperação em escala temporal humana para a manutenção das sociedades se não houver uma mudança nos padrões de uso dos recursos naturais ou ambientais. A humanidade está em cheque.
Daí, surgem os movimento ecologistas, com discursos conservacionistas, entretanto muitos discursos, também são excludentes, ou seja invertem totalmente a lógica, o homem fica fora, as sociedades deveriam ser radicais na forma de conservação. Tais discursos vão ser o ponto fraco do movimento ecológico, já que excluem as sociedades. Assim um novo modelo deveria ser buscado o modelo de desenvolvimento sustentável. Onde o equilíbrio sociedade e natureza possa garantir às atuais gerações sua manutenção e às gerações futuras os seus recursos.
Observamos que do discurso à prática existem grande lacunas, a exemplo do Tratado de Kyoto, sendo que mesmo após a RIO + 20, os governantes da maioria dos países não chegaram à um denominador comum sobre a questões ambientais que já preocupam severamente a humanidade. Questões como aquecimento global, diminuição das calotas polares, queimadas, emissão de dióxido de carbono, diminuição da biodiversidade são pontos que ainda não possuem resolução devido ao posicionamento de alguns países, à exemplo dos Estados Unidos, que se negou a assinar o tratado de Kyoto alegando que tal fato atingiria de forma muito negativa a economia daquele país.
Estes dados denunciam a problemática do padrão de desenvolvimento que tende a ser seguido por várias nações. Entretanto, felizmente, já se observam vários discursos repensando tal lógica de desenvolvimento ao exemplo da Economia Verde e do desenvolvimento sustentável, de acordo com (Jorge Hargrave e Sandra Paulsen - Economia Verde e o desenvolvimento sustentável, 2012), estas formas de pensar o fazer econômico, considerando os limites de sustentação dos usos dos recursos naturais e serviços ecossistêmicos são alternativas ao padrão de desenvolvimento atual. Estes autores comentam sobre a Economia Verde que deve considerar o esgotamento dos recursos naturais, os serviços ecossistêmicos e os limites planetário, representando fronteiras à serem respeitadas e seriamente observadas, assim delimitando certos padrões como o produtivo, a forma de distribuição (acesso à alimentação por exemplo e compartilhamento de tecnologias limpas) e mudança no tipo de consumo. Estas considerações influenciam em questões políticas, geopolíticas, de justiça social e forma de atuação de diversos agentes sociais em várias escalas (local, regional e global). De acordo com estes autores, que são economistas, o processo de mudança para os princípios e ações que embasariam uma Economia Verde não vem se demonstrando com uma opção, mas, como bem definem, uma tendência da economia mundial. Como exemplo do que já se vê em diversas mídias sobre divulgação do consumo consciente, no fortalecimento do mercado do carbono, nas certificação de produtos ecologicamente corretos em modo no norte da Europa e já em crescimento, mesmo que de forma ainda pequena no Brasil. Essas tendências também têm se mostrado como oportunidades de negócios, um grande mercado de produtos certificados e também da valorização da gestão ambiental nas empresas através das certificações ISO por exemplo, uma crescente exigência de mercado Um exemplo não tão distante desta discussão é o “boi verde”, uma exigência de alguns países de carne saudável e que produza baixos impactos ambientais.
Neste ponto HARGRAVE e PAULSEN (2012), citam que o Brasil tem ai uma forte oportunidade, aproveitando certas características produtivas que possui atualmente, aqui incluímos a agricultura familiar que contribui com 70% da produção de alimentos no país (MDA, 2005 em www.rts.org.br), assim adequando-se ao processo produtivo de economia verde, aqui visualizamos que vai por várias frentes econômicas incluindo da agricultura à industria, à construção civil ao turismo por exemplo. Obteria-se grande parcela deste mercado. Estes autores elencam alguns pontos que deveriam ser considerados dentro de uma macro estratégia de desenvolvimento com bases em economia verde, considerando o potencial ecológico e o nível de degradação ambiental pelas atividades econômicas de cada país. Assim expõem: “a) Centralidade dos conceitos de pegada ecológica (ou alguma variante) e biocapacidade que mostrem o impacto ambiental não apenas dos padrões de produção mas também de consumo em cada país; b) Pagamentos de serviços ecossistêmicos em nível internacional; c) Esquemas nacionais e internacionais de financiamento e transferência de tecnologias para o desenvolvimento de setores baseados na economia verde; d) Algum tipo de precificação do carbono; e) Eliminação dos subsídios perversos, por exemplo, aos combustíveis fósseis.” HARGRAVE e PAULSEN (2012).
Estes autores tocam em dois pontos que concordamos que sejam primordiais para que ocorra o que se pode definir de desenvolvimento sustentável em nível global. Primeiramente, o papel central da educação e depois a necessidade da preservação à níveis que permitam a dignidade e a qualidade da vida humana para as gerações futuras do capital natural, físico, humano e social. A educação então é apresentada como a base da construção de uma sociedade como cidadãos eco-politizados, conscientes, críticos e capazes de solucionar  desafios ambientais. E o capital natural para a sustentabilidade do sistema. 

Diversas questões ainda estão pendentes de solução, entretanto o que já está bem claro para a sociedade atual é que o padrão de crescimento industrial, produção e consumo humano está cada vez mais insustentável. Os neo-malthusianos reforçam cada vez mais sua teoria devido ao crescimento populacional mundial. São necessárias tecnologias sustentáveis que venham substituir a matriz energética em escala global. O petróleo além de ser extremamente degradante ao meio ambiente, como bem sabemos, é fonte de diversos conflitos bélicos, que por vezes ficam mascarados por bandeiras de anti-terror, anti-fundamentalismo etc.. Um olhar atento à Geopolítica do petróleo deve ser tomado para entendermos ainda mais a relação sociedades e natureza.
Então qual seria o caminho a ser seguido pela sociedade? Não nos cabe aqui sermos profetas ou qualquer coisa do gênero. O que nos cabe, como comunidade científica e educacional é alertar sobre os usos e abusos dos recursos naturais por parte de toda a sociedade, da residência à multinacional, de uma prefeitura ao bloco econômico. Um exemplo gritante é a necessidade de substituição da matriz energética petróleo, este recurso, não renovável, com seu consumo, tem agredido o meio ambiente de diversas formas, como derramamento de petróleo, a queima deste combustível fóssil, o uso indiscriminado de plásticos, etc.. São fatores que nos forçam a buscar alternativas energéticas que garantam qualidade de vida e desenvolvimento econômico sustentável ecologicamente. Eis o maior desafio da humanidade. Prover as sociedades de possibilidades de garantir um futuro ecologicamente equilibrado às gerações futuras.

SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

A questão da relação sociedade e natureza, como já exposto, se dá de forma diferenciada entre as diversas sociedades, sendo elas urbanas, povos da floresta, camponeses, etc. A forma de lidar com o meio esta vinculada à cultura da sociedade em questão. Na sociedade ocidental, em geral, a natureza “recurso” está em pleno declínio. A falha, por vezes intencional, governamental de aplicação das leis ambientais, a crise urbana, a queda da qualidade de vida nos grandes centros são fatores que já preocupam vários setores sociais e já tem ultrapassado os muros dos centros acadêmicos.  Quais as soluções hoje encontradas para este desafio?
A tecnologia é um caminho importante para começar a diminuir os impactos causados à natureza pela sociedade de consumo. O uso de energia renovável tende a crescer ainda mais. Alguns países tem direcionado fortes investimentos em energia sustentável, a caso do Japão na cidade de Minamisoma, região de Fushima, onde se tem altos investimentos para a construção do maior parque de energia solar deste país. Além da energia solar, as tecnologias para uso de fonte eólica, hídrica, biomassa entre outras, têm se destacado como soluções à substituição da matriz energética predominante, o petróleo.

Essas tecnologias que utilizam fontes de energia renováveis são apontadas por diversos organismos internacionais, tal qual a ONU, como o caminho para a sustentabilidade do planeta. Entretanto ainda existem muitas “amarras” para uma mudança no padrão energético em muitos países, no Brasil por exemplo, a matriz energética é bem diversificada, as grandes redes de energia provindas de hidrelétricas como Itaipu, Balbina, Tucuruí alimentam grande parte dos municípios brasileiros, mas ainda são necessárias termelétricas, com queima de diesel, para muitos municípios em que ainda não há acesso a energia constante do sistema nacional.
Além da discussão sobre a matriz energética, temos o uso de outros recursos naturais, como a extração de minérios, a derrubada de madeira, que apesar de ser um recurso renovável, tem sido uma área de constantes conflitos. Muito se expõe nos noticiários nacionais sobre conflitos de terra, madeireiros e indígenas, madeireiros e IBAMA, madeireiros e seringueiros. É certo que houve avanços no combate a derrubada irregular de árvores em floresta nativa por parte de madeireiros e também na “Fronteira Amazônia” na expansão do sistema de plantation de soja e pastos de pecuária extensiva , ainda mais com uso da geotecnologia para acompanhamento e controle de focos de derrubada e queimadas, mas muito resta a caminhar para garantir um uso racional deste recurso à exemplo de maior apoio à atividades de fiscalização e cumprimento da legislação ambiental; O esgotamento indiscriminado de muitos recursos naturais, além da miséria social, tem empobrecido a biodiversidade dos biomas brasileiros.

SOCIEDADES ECODESENVOLVIDAS

Qual o padrão de sociedade que mais se encontra em equilibro com a natureza?  Pode nos parecer utopia buscar um sociedade em que a cultura está em total equilíbrio com a natureza. Partindo do princípio dicotômico homem x natureza, realmente fica ainda mais difícil buscar tal sociedade, já que a partir deste prisma a natureza deve ser subjugada pela sociedade servindo ao seus propósitos de desenvolvimento, de seu avançar para algum lugar, um lugar desconhecido, ao qual pelo que percebemos quanto mais o homem pensa estar se aproximando, mais e mais vai se afastando. Pois, ao nosso entendimento, quando na base de uma sociedade está o consumo, o individualismo e o crescimento econômico-tecno-industrial infinito, mais este homem torna ao outro e à si mesmo escravo. Aproveitamos aqui para citar VARELLA (Portal Vermelho, 2009), em seu artigo Libertas e serás também, onde escreve “Quanto vale no prato o pescado ao consumidor final e o ganho real (dinheiro e qualidade de vida) do pescador? Quem obriga a este homem a trabalhar duro para consumir a vida sem ganhar nada durável e à sua mulher a esperar sentada a ver novela na TV aonde a imagem moderna chega com seu poder de sedução ao êxodo rural e ao consumo urbano? O Homo sapiens não sabe fazer greve à marretagem, nem tolerar seus vizinhos para compartilhar e poupar força de trabalho... O mito da nobreza do Trabalho vai, sim, tornar esse homem dependente do ócio de outros homens. Assim como o alienado consumidor de lazer ignora o trabalho e miséria que ele causa na outra ponta da cadeia.”

A natureza das sociedades não é a natureza da natureza, lembrando MORIN. Cada cultura se vê de forma diferenciada com a natureza, para uns existe o pedido de perdão ao derrubar uma árvore ou uma caça para a morada ou alimentação de sua família e para outros não existe preocupação se ao derrubar milhares de hectares de floresta para o “desenvolvimento” e manutenção do sistema capitalista de opressão e produção, para que o status quo se perpetue para ricos e miseráveis, perde a humanidade e seus descendentes que chorarão feito filhos bastardos que a nada lhes coube de Terra saqueada. Por mais cruel ou louca análise que se apresente estas últimas observações, o caminho para este cenário está muito bem aberto.

ECO ALFABETIZAÇÃO

Uma eco-alfabetização se faz necessária. De acordo com (CITAR) a autora  é necessária preparar gerações conscientes da necessidade de equilíbrio entre sociedades e natureza. Cabe aos meios acadêmicos e escolares, retribuir à sociedade os milhares e milhares de votos de confiança, mesmo que sem saber, através dos impostos transformados em investimentos públicos.  É importante a valorização inicialmente dos docentes em todos os níveis de ensino que formarão ou aprovarão cidadãos, graduados, mestres e doutores para que tenham maior apoio e engajamento na revolução silenciosa da educação.

 Outro fator primordial é a popularização e transformação dos conhecimentos sobre meio ambiente em ações reais e legislação obedecida por toda a sociedade. Tal fato somente se fará possível com um movimento de base educacional, da valorização da educação ambiental na estrutura curricular das escolas em todas as nações. E sobretudo a estímulo ao consumo consciente de produtos realmente sustentáveis, socialmente equilibrados e ecologicamente corretos, à exemplo de produtos de agricultura familiar e economia solidária. Como diz um provérbio popular, “prevenir é melhor que remediar”, e esta prevenção está na legislação ambiental, no consumo consciente, na valorização do conhecimento tradicional e na valorização da educação sócio-ambiental em todos os níveis de ensino.

CONCLUSÃO

Pela breve análise deste trabalho podemos observar que apesar da aparente separação feita entre a natureza e a sociedade ao longo dos séculos, existe um ligação forte que faz uma dependência das sociedades em relação à natureza. Após os movimentos de tomada de consciência de diversos setores da sociedade, tendo início na década de 60-70, várias ações políticas têm voltado os olhos ao equilíbrio no usos dos recursos naturais.
Muitas sociedades aborígenes já mostravam um uso equilibrado do meio em que viviam e que tem por vezes tem sido, por este motivo, um ponto de referência nas formas de uso. Entretanto em uma sociedade capitalista ainda resta muito a caminhar no sentido de buscar esta forma equilibrada de uso dos recursos de forma a atingir o desenvolvimento sustentável para todas as nações. Urge, lutar para que isto venha a ocorrer e o caminho mais aberto é através da conscientização de todos para que as futuras gerações possam usufruir de maneira adequada e também sustentável da natureza.
As escolas são um dos lugares para a alfabetização ecológica das sociedades ocidentais. Cabe à nós professores auxiliar nesta maravilhoso descoberta e re-ligação, entre pessoa e natureza.
Finalizamos com este trecho Conforme Gonçalves (2006) em Ramos (2007), “somos testemunhas de um tempo marcado pela eficiência da ciência, mas que tende a uma visão catastrófica sobre a futura condição da natureza e de nosso planeta. Isto fez com que a ecologia deixasse de ser um ideal romântico, de indivíduos contrários a um eterminado sistema econômico vigente, para ser pertinente a qualquer ser humano, preocupado em construir valores étic os menos antropocêntricos. Neste cenário histórico, a revisão filosófica do conceito de natureza que se faz essencial, é aquela que deve auxiliar a recuperar um novo sentido de liberdade, menos egoísta e mais solidária, menos restrita ao ego humano e voltada ao universo.”





Bibliografia

NETO, Aristóteles Teobaldo; O ambiente e a distribuição geográfica dos seres vivos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
DULLEY, Richard Domingues. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais. Revista Informações Econômicas. Instituto de Economia Agrícola, São Paulo, v. 51, n. 2, p. 15-26, jul./dez. 2004.
LIMA, Gilberto Tadeu. Naturalizando o capital, capitalizando a natureza: o conceito de capital natural no desenvolvimento sustentável. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 74, jun. 1999.
CAMPONOGARA, Silviamar; RAMOS, Flávia Regina Souza; KIRCHHOF, Ana Lúcia Cardoso. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental. Fundação Universidade Federal do Rio Grande. PPGEA – Vol. 18, janeiro 2007.

L � �� úcia Alves de; RIGOLIN, Tércio Barbosa; Fronteiras da Globalização: Geografia Geral e do Brasil, Ática, SP, 2005;



            COELHO, Vagner Limiro ET AL. O Ambiente e a distribuição geográfica dos seres vivos, vl. 2,  PEARSON, SP, 2011;

DAMIANI, Amélia Luisa; População e Geografia, Contexto, SP, 1991;

            HOBSBAWM, Eric; Era dos Extremos: O breve século XX 1914-1991, Companhia das Letras, SP, 2002;

MAZOYER, Marcel; ROUDART, Laurence; História das agriculturas no mundo. UNESP, SP, 2008;

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            RODRIGUES-CARVALHO, Cláudia & SILVA, Hilton P. (Orgs.); Nossa Origem: o povoamento da Américas: visões multidisciplinares; Vieira & lent, RJ, 2006;

            WIKIPEDIA (16-08-2013); <http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_homini_lupus>




População: breve análise geográfica

Moacir J. M. Pereira 

INTRODUÇÃO



            Iniciando nosso trabalho apresentamos o seguinte trecho:

O motivo dessa impotência estava não apenas na verdadeira profundidade e complexidade da crise mundial, mas também no aparente fracasso de todos os programas, velhos e novos, para controlar e melhorar os problemas da raça humana.

(HOBSBAWN, 2002)

            Selecionamos o trecho acima, pois, nos remete a um pensamento importante, a problemática populacional, vista através dos Estados e diversos estudiosos do tema ao longo do tempo, e Eras, aqui tomamos de empréstimo o termo de HOBSBAWN para destacar a forma como a análise das populações se deu.

MAZOYER (2008) expõe em uma obra primorosa e de referência para os estudos sobre as agriculturas no mundo que a primeira grande revolução humana foi a Revolução Agrícola do Neolítico, onde os grupos humanos começaram a dominar técnicas através da criação de ferramentas para o auxílio aos cultivos, como por exemplo, ferramentas cortantes com uso de pedra tais como foices, serras, a moenda, os machados, vão facilitar sobremaneira a fixação do homem à terra e a dedicação ao cultivo e à criação. E neste ponto se erguem as relações sociais e brotaram as sementes que possibilitaram a ocupação humana em várias partes do globo fundando as bases das sociedades até nossos dias.

Para que se possa ter uma análise geográfica sobre população se faz necessário buscar fontes de informações em autores como Malthus, Pierre George, Amélia Damiani, que irão nos dar embasamento teórico para que possamos “alçar vôo” em nossos estudos e percepções sobre quais motivos levaram às características atuais da população mundial, à exemplo de desenvolvimento, subdesenvolvimento, miscigenação, relações com natureza etc. É importante conceituar população, conhecer os diversos movimentos populacionais humanos, saber interpretar os indicadores geográficos com bases estatísticas para se perceber as diferenciações espaciais e as características das populações que ocupam os diversos espaços geográficos no Globo de forma heterogênea por processos histórico-culturais à luz da antropologia e da geografia.

As análises antropológicas com bases em estudos de arqueologia são os fundamentos essenciais, apesar de não conclusivos e por vezes conflitantes entre teorias e teses, típico das ciências, para que possamos ter o entendimento inicial das características de ocupação dos continentes antes das grandes navegações como é o caso das Américas com as populações pré-colombianas. Vários estudos tentam explicar as origens das populações e suas miscigenações como o caso de Lagoa Santa em Minas Gerais com Luzia pondo em cheque as primeiras ocupações no Novo México Clóvis. Qual a importância para a geografia hoje destes estudos pretéritos? Teriam importância na conformação das populações atuais, no caso do Brasil? Teriam um peso cultural? E a influência européia, seria ela um fator de diminuição destas características iniciais?  Uma obra muito interessante sobre esta temática, apesar de que não a desenvolveremos aqui está em RODRIGUES-CARVALHO e SILVA (2006), que tratam da ocupação das Américas e alguns pontos das origens da distribuição sapiens sapiens no globo.

Sem dúvida um fator que influenciou o crescimento populacional e a dominação do homem sobre os espaços do Globo foi o desenvolvimento das técnicas agrícolas, que possibilitaram às sociedades se fixarem a terra, passando de nômades a sociedades organizadas que vão gerar civilizações inteiras. A primeira grande revolução agrícola no período neolítico (MAZOYER, 2008) criou novas e fortes relações entre as sociedades e a natureza, além de relações de poder entre os grupos que possuíam melhores técnicas e adaptações.

Para entender a população mundial se faz necessário aceitar a diversidade e buscar desvendar a exploração do homem pelo homem, Homo homini lúpus Plauto (254-184) in WIKIPEDIA (16-08-2013), e os conflitos entre as sociedades. Também para entender as populações é importante buscar através de fontes históricas como as sociedades encararam o problema do crescimento populacional ao longo dos séculos e como decisões tomadas pelos Estados e Nações influenciaram na vida dos cidadãos do mundo.    

Com a evolução das técnicas e a acumulação de capital, a propriedade privada e conflitos de territórios o peso das populações sobre a economia dos Estados Nações começa a preocupar diversos pensadores, muitas vezes culpando a própria população pelas situações de crise que enfrentavam. Faz-se, necessário um passeio por Malthus, os Neomalthusianos e os Revisionistas. O que não esgotaria o tema.



OBJETIVOS


            Apresentar conceitos gerais sobre estudos de população e sua relação com abordagens geográficas.


METODOLOGIA


            Nossa pesquisa se desenvolveu através de levantamento bibliográfico e pesquisas na rede mundial de computadores.


RESULTADOS


De acordo com MORMUL & ROCHA (2012) ao se tratar de população, há forte ligação com estudos geográficos, por possuir um caráter interdisciplinar, pois segundo os mesmos os estudos de população possuem ligações em várias áreas do conhecimento, apresentando-se por sua vez como um tema de grande complexidade, que pode nos levar a uma abordagem sistêmica. Pois ao se aprofundar nos estudos podemos desvelar várias fácies que nos mostram períodos e abordagens diferenciadas, e denunciam ideologias como podemos encontrar exposto em DAMIANI (1991).

            Outro aspecto importante é conceituar população, para isso alguns autores ao longo dos tempos buscaram nas ciências biológicas este conceito, o que por algum período levou a certas análises de população que excluíam os aspectos sociais e econômicos, os modos de vida e as relações e necessidades humanas de respeito e dignidade. Neste ponto encontramos também em MORMUL & ROCHA (2012) citações sobre pesquisas e abordagens da distribuição das populações humanas no ecúmeno, expondo que as concepções primárias buscaram suas explicações na Biologia, e por sua vez as abordagens geográficas também beberam desta fonte, tendo uma abordagem quantitativa supervalorizada, que é também denunciada por DAMIANI (1991), onde se deixam em segundo plano fatores econômicos, sociais, políticos, de existência pessoal em favor de conceitos como crescimento, fertilidade, mortalidade, migrações etc. “Deste modo, população, conceito advindo da biologia, passou a compor os estudos geográfico” (MORMUL & ROCHA, 2012).

            De acordo com MOREIRA & SENE (2007) o conceito atual de população para a geografia é dado como um conjunto de pessoas residentes em um mesmo espaço ou área, obedecendo a diversas escalas, podendo ser desde um bairro, um município, um país até à população mundial, que por sua vez poderá ter vários critérios de  classificação, por aspectos diversos como etnia, local de moradia, atividade econômica, faixa etária etc..

            Assim o que percebemos na literatura pesquisada é que inicialmente a Geografia busca na ciência biológica a legitimação, ou melhor, o caráter científico de análise e estudo das populações, a sociedade “não social”, o que com o tempo se modificará, conforme o parágrafo anterior.

De acordo com MORMUL & ROCHA (2012) “É inegável  a  contribuição  de  importantes  geógrafos  como Vidal  de  La  Blache,  Friedrich Ratzel (geografia clássica,) Pierre George, Jacqueline Beaujeu Garnier (geografia moderna),entre muitos  outros,  que  contribuíram  significativamente com  o  estudo  da  população  na  Geografia, suas  colaborações  encontraram  eco  nos  vários  ramos da  Geografia.  Porém,  vale  ressaltar  que  o contexto  em  que  esses  estudos  populacionais  foram  desenvolvidos,  revela-nos  que  estavam voltados a entender as questões de seu tempo.” Assim fica claro que não devemos esquecer que a abordagem geográfica de população está intimamente ligada às percepções e ideologias ao longo da história humana, denunciando interesses econômicos e políticos, como encontraremos em Malthus e os Neomalthusianos, Marx e os Revisionistas.

           
            Voltando para a abordagem geográfica das populações, com o processo de modernização técnico-científica na transição dos séculos XVIII, XIX e  XX, MORMUL & ROCHA (2012) , destacam que novas estruturas espaciais surgem rompendo com várias análises, à exemplo da Malthusiana, mas que se mantém vivas através das ideologias que se implantaram nas corridas imperialistas pela expansão do capital. Assim dentro dos estudos de população feitos pela geografia, na Nova Geografia, se tinham como ferramentas as técnicas estatísticas, matemáticas e de normatização/padronização das análises, fundadas na demografia. Em um contraponto surge paralelamente na década de 70 uma nova visão sobre população, onde as lutas de classe são consideradas, é o momento da Geografia Crítica. Vale deixar  o trecho abaixo que explicita bem esta nova fase:

O  estudo  da  população  na  Geografia  exige  o  aporte  de  outras  ciências  sociais como  a  Economia  Política  e  a  Sociologia,  para  explicar  o  porquê  do  lugar  de pessoas  nas  classes  sociais,  a  perda  dos  indivíduos  na  coisidade  da  força  de trabalho do homem genérico, ao mesmo tempo submetido na sociedade, não por obra do acaso, mas das leis sociais dominantes.
(RIQUE, 2004 in MORMUL & ROCHA, 2012 )


            Então com a Geografia Crítica se põe em destaque uma mudança na abordagem geográfica sobre população, deixando um pouco de lado a análise estritamente quantitativa para uma percepção qualitativa das populações e as suas relações sociais expostas pela luta de classe. Para FOUCAULT de acordo com MORMUL & ROCHA (2012), estudar população é ter em mente que se trata de algo por excelência humano, em que suas distribuições e materialidades, são decorrentes de processos histórico-espaciais derivados de relações sociais por vezes conflitantes, e que vão deixando em menor importância a análise meramente quantitativa, não a abandonando por completo, como bem expõe DAMIANI (1991), mas tendo os dados quantitativos como ferramentas de apoio à análise principal, que são os dados qualitativos.

            De acordo com DAMIANI (1991) “a  geografia  da  população  é  compreendida  como  primeira aproximação  dos  fenômenos  urbanos,  políticos,  econômicos,  constituindo,  nesse  sentido,  o primeiro capítulo dos tratados de geografia humana”.  

            MORMUL & ROCHA (2012) citam que o primeiro uso do termo Geografia da População se dá a Pierre George (1951), sendo utilizado posteriormente por diversos autores como Trewartha (1953), Melezin (1963), Pokshishevskiy (1966), Chandna  & Sidhu  (1980) entre outros.

Ainda retomando a importância da análise qualitativa no estudo das populações, ou melhor, da Geografia das Populações buscamos em DAMIANI (1991), reforçar esta idéia quando a autora expõe que a supervalorização da pesquisa quantitativa pode nos remeter à alguns resultados “superficias” dos fenômenos sócias, mascarando as relações conflituosas entre os diversos grupos sociais. O que a autora expõe é que não se deve excluir o quantitativo, como exposto nas considerações acima, mas relacionar às análises qualitativas.

Desta forma a autora explica que estudo das populações é por si o estudo das complexidades, ou seja, a mesma considera que “A população constitui a base e o sujeito de toda a atividade humana. Exatamente por isso a população tem tal complexidade, nesse momento histórico. Se se partir do estudo da população, teríamos que percorrer todos os aspectos, elementos e conseqüências da sua atividade para conhecê-la..” DAMIANI (1991).

Tratando dos estudos sobre população DAMIANI (1991) faz um levantamento do que ela expõe como resgate necessário para o estudo da Geografia das Populações resgatando e explicando algumas abordagens definidas como principais, como Malthus, os Neomakthusianos, Marx e os Revisionistas. Dentro de sua análise ela desvela que para Malthus, considerando seu momento histórico, transição do século XVII para o XVIII, e a condição reacionária do mesmo, a miséria era necessária, pois desta forma se manteriam algumas condições de existência que atuariam para o controle da superpopulação, através de um ciclo de ascensão e decadência das condições de vida das populações, controladas pela miséria e pela fome. Também expõe que para Malthus a fome e a miséria possibilitariam o aumenta da produção, pois as massas populacionais se dedicariam a abertura de novos campos de produção de alimentos, um ciclo vicioso. “A miséria para Malthus, é, portanto necessária. Ela aparece na fome, no desemprego, no rebaixamento dos salários; então, ela mata, ela faz adoecer, ela reduz o número de matrimônios, pois será mais difícil sustentar os filhos... Por outro lado, ela incita os cultivadores a aumentar o emprego da mão-de-obra disponível, a abrir novas terras ao cultivo, a re-harmonizar a relação população/recursos.” (DAMIANI, 1991).

Como exposto acima, o momento histórico da abordagem de Malthus sobre a população, em que o campo miserável migrava para as cidades em busca de sobrevivência ou algum tipo de sustento, o mesmo se preocupava com a disponibilidade de mão-de-obra para a produção de alimentos, onde como bem se conhece, expõe que o crescimento populacional se daria de forma geométrica, enquanto a produção de alimentos de forma aritmética, não sendo suficiente para a manutenção das populações. Assim, “Argumenta Malthus que é preciso distinguir o número de braços que o capital da sociedade pode empregar e o número que pode produzir alimentos em seu território. O emprego na manufatura teria um resultado diferente daquele da agricultura.” (DAMIANI, 1991)

            O que se faz destaque é que para DAMIANI (1991), Malthus não dá atenção para a evolução das técnicas, ponto da principal crítica à esta abordagem, como forma de suplantar a situação da fome, como também o mesmo estaria buscando esconder as reais condições que motivavam a miséria, que eram a exploração das populações por uma aristocracia e um burguesia emergente. Como bem expõe no trecho abaixo:

Não estaria Malthus fugindo ou subestimando as relações sociais e econômicas, particulares  ao momento que viveu, como fonte explicativa da pobreza, refugiando-se, como princípio motor de sua teoria, numa relação numérica abstrata? Neste caso, ele não estaria colaborando para perpetuar esta pobreza? Muitos o consideram o ideólogo da economia burguesa; em outros termos, seu defensor e legitimador.
DAMIANI, 1991

            Um ponto se faz importante frisar e destacar, que as bases do que hoje conhecemos como demografia e que ainda continuam subsidiando as análises da Geografia das Populações através de dados obtidos e de suma importância nos planejamentos de governos e pesquisas como dados de natalidade, mortalidade, crescimento vegetativo, etc. tem seus fundamentos em Malthus e nos Neomalthusianos, da década de 50 a 60, como por exemplo, os programas de planejamento familiar e populacional em vários lugares do mundo, como ocorreu no Japão Pós-Guerra, nos Estados Unidos da América, na Coréia do Sul, no Brasil etc.. e que ainda hoje são aplicadas pelos Programas de Planejamento Familiar, de caráter Neomalthusiano.

            Para DAMIANI (1991) “Malthus não só está vivo através do pensamento neomalthusiano do século XX, ... , como orientou a construção da demografia, ao conferir importância sócio-econômica aos problemas populacionais ... conferida à população por pensadores como Malthus, a demografia formal chega a superestimar essa tendência autonomizante, constituindo técnicas quantitativas para pesquisar as ‘leis endógenas’ do movimento da população: nas análises de natalidade, de mortalidade, quanto à constituição do crescimento vegetativo, entre outras.”

            Para o pensamento neomalthusiano, a questão central da superpopulação está no fato de que a superpopulação exige dos governos, principalmente de países em desenvolvimento, que os investimento que poderiam ser aplicados para o crescimento econômico, em novas tecnologias, em infra-estruturas, são direcionados para atender as camadas pobres e miseráveis fazendo com que estes países sofram e tenham um lento ou nulo desenvolvimento econômico, perpetuando a miséria das populações.

            Um contraponto para esta análise está em Marx, que busca denunciar que a miséria se dá pela luta de classes e pela expropriação dos meios de subsistência e da capacidade de produzir dos trabalhadores, forçando-os a vender sua mão-de-obra para o Capital, de forma desvalorizada e por vezes de forma insuficiente para sua manutenção e de sua família. “Para Marx, o pobre não é somente aquele privado de recursos, mas aquele incapaz de se apropriar dos meios de subsistência, por meio do trabalho. Existe, assim, a seguinte mediação social a se considerar: a qualidade de necessitado do trabalhador decorre do fato de ele depender sempre da necessidade que o capitalista ... tem de seu trabalho.” (DAMIANI, 1991). Apesar de se supor que Malthus não tenha dado observância a questão das técnicas para suprir a fome e a miséria, o Capital se apropria das mesmas impondo em seu ritmo as relações sociais nos grandes centros urbanos e gerando um exército de proletariado subvalorizado em fileiras junto ás empresas, “.. o desenvolvimento das técnicas, dos métodos de trabalho, das ciências incorporadas à produção .. exige proporcionalmente mais máquinas, matérias-primas, enfim, meios de produção do que força de trabalho ou mão-de-obra.” (DAMIANI, 1991)

            A abordagem da Geografia da População, apoiada na Geografia Crítica, expõe as relações sociais presentes e que se encontram de forma bem clara nos grandes centros urbanos e no meio rural que vai se proletarizando após a Revolução Verde. “Constitui-se, assim, uma massa de trabalhadores disponível, ou se criam excedentes populacionais úteis, que constituem uma reserva de trabalhadores inativos, passíveis de serem usados a qualquer momento, dependendo das necessidades de valorização ou expansão do capital.” (DAMIANI, 1991). Assim se cria uma condição de manutenção do Capital através do lucro e da exploração das populações pela regulação dos salários e mão-de-obra barata, motivada pela superpopulação relativa.


            De acordo com DAMIANI (1991) a partir da década de 20, teve início na Europa a aplicação do que seria conhecido como ótimo populacional, sendo um ponto de equilíbrio para a manutenção da boa qualidade de vida e situação econômica do país, onde variações no crescimento populacional, como crescimento acelerado ou decréscimo influenciariam nas condições sócio-econômicas do país. Desta forma pode-se considerar que até certo ponto o crescimento da população seria positivo para o país, entretanto passando-se deste limite o caindo demais ficaria comprometida a sustentação econômico-social da nação. Porém esta abordagem, segundo “Os críticos do malthusianismo asseguram que ele encobre as formas concretas e históricas, e suas mediações sociais particulares; e que estuda a relação entre natureza e sociedade, inclusive ocultando as relações de troca desiguais entre diferentes países. O malthusianismo não explicaria a produção concomitante e contraditória da riqueza e da miséria, da superprodução de alimentos e da fome. Fundamentaria ações imperialistas. Serviria, portanto, a uma política interna reacionária e externamente agressiva.” (DAMIANI, 1991).

Para a autora “o malthusianismo ou neomalthusianismo posto como uma ideologia que se aplica por meio de estratégias políticas e relativamente eficazes com objetivos ligados a manutenção das classes dominantes e na exploração das populações. Também considera que o crescimento populacional, especialmente a partir da década de 50,  nos países do Terceiro Mundo, no entender da teoria neomalthusiana, determinaria a existência de uma população excedente às possibilidades do desenvolvimento econômico desses países. E assim explicaria seu subdesenvolvimento... Apesar de muitos considerarem que os programas de desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo teriam um efeito redutor sobre a natalidade, admite-se quase por unanimidade, a necessidade de políticas de controle de natalidade. Essa redução tardaria e seria preciso antecipá-la.”

Nos países pobres, as várias formas de fome, denunciada no Brasil por Josué de Castro, atingem grandes porcentagens da população, sofre-se de fome em geral ou de fomes específicas (como falta de proteínas), portanto, sofrem a escassez de produtos alimentícios, estes são abundantes nos países chamados desenvolvidos. Em 1974 ocorreu em Budapeste a Conferência de População, onde foram postas à mesas várias cartas em que se denunciou que a questão da superpopulação e da miséria no mundo é decorrente das ações Capitalistas e Imperialistas motivadas pelo lucro e pelo estímulo ao superconsumo. Desta forma algumas nações em desenvolvimento expuseram que para erradicar a fome é necessário o desenvolvimento pleno das nações.

            Esta última análise ficou conhecida como teoria demográfica reformista, segundo os defensores desta corrente, existe uma tendência ao controle espontâneo  da natalidade quando da melhoria das condições de vida e educação da população, é uma teoria considerada por alguns autores como mais realista por considerar vários aspectos, como a questão econômica, social e demográfica, baseada nas situações das populações, das pessoas.

            De acordo com COELHO (2011), percebe-se que a dinâmica populacional, e sua análise deve considerar os processos históricos e sociais das populações, além também de desta forma buscar entender vários processos de crescimento, decrescimento e migração das populações tendo em vista suas condições sociais e sua relação com os recursos naturais e econômicos, que irão influenciar em sua distribuição na face terrestre. Assim se faz pertinente perceber as diversas formas de investigação das populações, com abordagem geográfica que nos demonstra vários aspectos sócio-espaciais. Entretanto esta abordagem para chegar a dados qualitativos busca em informações demográficas de origem quantitativas sua partida para a análise, conforme citam ALMEIDA & RIGOLIN (2005):


O conhecimento da distribuição dos habitantes por idade, sexo e população que trabalha, dividida pelos setores econômicos (População Economicamente Ativa – PEA), pode revelar dados importantes sobre a realidade socioeconômica dos vários países do mundo. Para esse levantamento, usamos a demografia, que procurou explicar as variáveis das populações: número total, dinâmica de crescimento, distribuição. Estrutura e mobilidade (migração).



CONCLUSÃO


            Durante este trabalho foi possível percebemos que o estudo das populações passou por diversas abordagens durante sua evolução. Dentro da literatura pesquisada basicamente ficaram expostas quatro abordagens, o Malthusianismo, Baseada em Malthus que via a miséria como algo inevitável e necessário para a manutenção do equilíbrio entre a capacidade de produção de alimentos e o número populacional, tendo em vista que Malthus foi considerado como um conservador e que não desvelava as causas reais da miséria e da fome, mas sim as tornavam “naturais” e “aceitáveis”. Em seguida vieram as teorias de Marx que combatiam esta lógica  expondo que a fome, a pobreza e a miséria são frutos da exploração econômica e da condição imposta pela domínio capitalista sobre a grande massa da população. Depois com a evolução imperialista e no pós-guerras surgiram os neomalthusianos que consideravam a causa da pobreza das nações a necessidade de gastos públicos com as populações crescentes, onde não se investiria no desenvolvimento econômico industrial das nações. Por fim os revisionistas que denunciavam as condições impostas as nações pobres pelo modelo econômico mundial e pelo estímulo ao “superconsumo.”

















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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            COELHO, Vagner Limiro ET AL. O Ambiente e a distribuição geográfica dos seres vivos, vl. 2,  PEARSON, SP, 2011;

DAMIANI, Amélia Luisa; População e Geografia, Contexto, SP, 1991;

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            WIKIPEDIA (16-08-2013); <http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_homini_lupus>