Moacir J. M. Pereira
Introdução
O presente trabalho propõe expor de forma breve as
relações existentes entre sociedade e natureza, sua evolução temporal e suas
contradições. Buscamos, através de levantamento bibliográfico, o conceito de
natureza, ambiente, meio ambiente e recursos naturais, de forma a contribuir
com a discussão atual da relação homem x natureza. O que se mostrou durante a pesquisa, foi que
para muitos autores, em se tratando de desenvolvimento econômico e social, há
necessidade de se analisar sociedade e natureza de forma integrada,
indissociável, não que a natureza dependa da sociedade, mas que o inverso se
faz verdadeiro. Uma verdadeira contradição estabelecida pelo Modelo de
Desenvolvimento Econômico predominante, onde se busca sempre aumentar o consumo
para desta forma aumentar a produtividade, tem levado à escassez dos recursos
naturais, em suas diversas representações, influenciando na expansiva
degradação ambiental em nível global. O que observamos é uma forte ligação
entre o consumo e a degradação ambiental e por sua vez social. A homogeneização
das práxis urbana, do consumismo
desnecessário é um verdadeiro convite ao caos.
A
Natureza
Quais
são os conceitos existentes sobre natureza? De acordo com Neto (2010), quando
se desenvolve uma ideia do que venha a ser natureza logo se tem a imagem dos
animais, dos cursos d´água, das plantas etc. O que se observa, de acordo com o
autor, é uma separação do homem e da natureza, entretanto o mesmo alerta que há
necessidade de pensar a sociedade como parte da natureza, e ainda destaca que
“basta lembrar que nosso organismo é composto por água e minerais”. De acordo
com o mesmo autor vale salientar que ao entender o homem inserido no conceito
de natureza, se rompe a dicotomia sociedade x natureza, assumindo-se um
entendimento mais amplo, e adequado à realidade atual, indo “além da dimensão
natural/ecológica” para “a dimensão social, econômica, cultural e política”.
Uma
importante análise do que venha a ser natureza é quando se observa à luz do
tipo de sociedade que vem a construir este conceito, ou melhor, do tipo de
ideologia que vem tratar do tema. Assim a natureza, é um conceito humano, como
bem afirma Lenoble in Dulley (2004),
“não existe uma Natureza em si, existe apenas uma Natureza pensada. (...). A
natureza em si, não passa de uma abstração. Não encontramos senão uma ideia de
natureza que toma sentido radicalmente diferente segundo as épocas e os
homens”. Assim Dulley (2004) completa, “o significado da natureza não é o mesmo
para grupos sociais de diferentes lugares e épocas na história. A natureza é
pensada, a partir de relações sociais”.
As
realidades materiais das sociedades, assim definidas pelas suas capacidades
técnicas de fazer uso do meio, controlar situações naturais ou mesmo ter
domínio sobre o meio, ao longo da história das sociedades humanas, vão tecendo
a forma e o olhar humano sobre a natureza. De acordo com Neto (2010), “Cada
sociedade constrói seu conceito de natureza de acordo com sua realidade
socioeconômica e cultural. As sociedades primitivas possuíam uma relação de
respeito e um temor devido, principalmente, à dependência e uso dos recursos
naturais para subsistência”. Já nas sociedades modernas temos percepções bem
diferenciadas devido ao processo de evolução do conhecimento humano, que vai
apoiado por processos históricos marcantes como a Revolução Neolítica, o
surgimento dos aglomerados urbanos, as revoluções burguesas, a expansão do
conhecimento sobre novas áreas do planeta, as técnicas agrícolas, as trocas
comerciais, a acumulação de metais, o iluminismo, as revoluções industriais, os
Estados Nacionais, as grandes guerras, entre outros fatores que se buscarmos
aprofundar nosso olhar estão sempre ligados ao domínio do homem sobre a
natureza. Natureza entendida como domínio, recurso, expansão, mercado.
Aqui
podemos citar Milton Santos, com sua abordagem sobre o espaço geográfico,
partindo do meio natural, passando pelo meio técnico, técnico-científico e
chegando aos dias de hoje no meio técnico-cientíco-informacional. Lembramos
aqui também do geógrafo Ruy Moreira, em palestra proferida na UFPA, no encontro
de Geografia em 2012 onde citou Milton Santos e sugeriu, salvo engano, que
estamos em um meio técnico-científico-bio-informacional, devido aos avanços da
genética e seus usos comerciais na produção de alimentos e saúde, por mais
redundante que nos possa parecer o cunhar deste termo, é coerente por marcar
uma nova era, onde o mercado se apropria dos avanços científicos da
biotecnologia para ganhar novas fronteiras, tal qual a Revolução Verde, tocada
por Mazoyer & Roudart (2010, Edição UNESP) que denunciam a crise
contemporânea da produção agrícola.
Assim
como bem percebemos o conceito de natureza, socialmente construído, por vezes
excluí o Homem. Seria tudo aquilo em que o homem não teve relação em sua
criação. Entretanto existe um olhar que define as sociedades como entidades
naturais, ou seja, pertencentes à natureza e dela dependente diretamente para
sua manutenção e reprodução quanto sociedade.
Podemos
ver em Art (1998) in Dulley (2004), o conceito de natureza como “termo genérico
que designa organismos e o ambiente onde eles vivem: o mundo natural”, por
muitas vezes, observamos ser usado como sinônimos os termos, natureza,
ambiente, meio ambiente, recurso natural. Este mesmo autor expõe as
diferenciações conceituais, sendo: Ambiente “o conjunto de condições que
envolvem e sustentam os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte
desta, abrangendo elementos do clima, solo, água e de organismos”. Aqui fica
clara a relação de totalidade, o que na geografia entendemos como geobiocenose.
Meio ambiente “soma total das condições externas circundantes no interior das
quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto existe. O meio
ambiente não é um termo exclusivo; os organismos podem ser parte do ambiente de
outro organismo”. Aqui há referência à grupos específicos, em que condições
específicas lhe favorecem à vida e reprodução.
O
conceito de recurso natural é fundamentado como algo que existe em meio natural
e que poderá ser utilizado para determinado fim social. Ao exemplo das águas, dos
solos, das plantas, dos animais, dos ventos, da luz do sol entre outros.
Entretanto como bem sabemos estes recursos, são definidos em renováveis e não
renováveis, e justamente os recursos não renováveis tem sido motivo de diversos
conflitos internacionais, motivando guerras entre nações.
Assim
como bem entendido a natureza fica subjugada, tendo o homem como centro, e para
tal deve servir aos seus interesses “sociais de desenvolvimento”. Neto (2010)
cita que no Modelo de Desenvolvimento Econômico adotado pela maioria dos países
os elementos naturais são vistos simplesmente como matéria-prima. E que uma
sociedade para se sustentar dentro deste modelo deverá ter em sua escala de
valores os bens materiais como representação de “progresso, desenvolvimento e status
social”. Entretanto com a tomada a tomada de consciência dos limites de usos
dos recursos naturais, a partir do documento Limites do Crescimento, começa-se
a discutir mais sobre o uso da natureza como recurso.
Com
o domínio das técnicas a sociedade ocidental põe a natureza ao seu total
dispor, entendendo-a como um recurso ao seu desenvolvimento econômico,
garantindo através dela sua matriz energética (carvão em um primeiro momento e
petróleo em outro), e também subjugando nações e gerando diversos conflitos por
recursos para o desenvolvimento econômico forjado à luz dos interesses
Capitalistas. O que não exclui os ex-países de economia planificada. Faço aqui
um convite ao leitor, observando bem de perto, e trazendo até os dias de hoje,
quais conflitos bélicos que se desenvolveram entre os diversos países do globo,
e ainda se desenvolvem, não tem relação com o uso de recursos naturais? Difícil
, para o geógrafo, não ter uma vaga lembrança de Ratzel e Lacoste (apesar de
tão antagônicos). Um trabalho que mostra bem este ponto de vista que relaciona
conflitos armados com busca de recursos naturais esta em Renner (2002) in
Quental(2003), que faz uma relação de conflitos armados e suas causas
relacionadas ao domínio de determinados recursos naturais. O autor cita uma
relação de conflitos bélicos e seus reais motivos: 1992-2001, Angola,
diamantes; anos 90, Serra Leoa, diamantes; Fim da década de 90, Libéria,
madeira; desde 1999, Sudão, petróleo; 1999 a 2000, Ruanda, tantalite-columbite;
90-2001, Afeganistão, lápis-lazúli; 90, Cambodja, madeira; entre outros. E a
questão do carvão mineral na Alsácia-Lorena? E a questão do petróleo nos dias
atuais? Todos estes são pontos importantes que devemos considerar na relação
sociedade e natureza, a natureza como recurso econômico nestes casos.
O
que se percebe é que se busca manter, ou atingir, um Modelo de Desenvolvimento
Econômico em que as nações tenham maior produção e maior mercado consumidor, a
qualquer custo. Sabemos que este padrão de desenvolvimento está sendo questionado
por diversas instituições internacionais, movimentos sociais, ONGs, todos estes
engrossando o discurso de desenvolvimento sustentável. A partir da década de
60-70 alguns discursos começaram a se preocupar com a questão ambiental, após a
publicação do relatório Limites do Crescimento, ficou em foco que o padrão até
então observado de crescimento estava inviabilizado. O planeta Terra não possui
a capacidade de recuperação em escala temporal humana para a manutenção das
sociedades se não houver uma mudança nos padrões de uso dos recursos naturais
ou ambientais. A humanidade está em cheque.
Daí,
surgem os movimento ecologistas, com discursos conservacionistas, entretanto
muitos discursos, também são excludentes, ou seja invertem totalmente a lógica,
o homem fica fora, as sociedades deveriam ser radicais na forma de conservação.
Tais discursos vão ser o ponto fraco do movimento ecológico, já que excluem as
sociedades. Assim um novo modelo deveria ser buscado o modelo de
desenvolvimento sustentável. Onde o equilíbrio sociedade e natureza possa
garantir às atuais gerações sua manutenção e às gerações futuras os seus
recursos.
Observamos
que do discurso à prática existem grande lacunas, a exemplo do Tratado de
Kyoto, sendo que mesmo após a RIO + 20, os governantes da maioria dos países
não chegaram à um denominador comum sobre a questões ambientais que já
preocupam severamente a humanidade. Questões como aquecimento global,
diminuição das calotas polares, queimadas, emissão de dióxido de carbono,
diminuição da biodiversidade são pontos que ainda não possuem resolução devido
ao posicionamento de alguns países, à exemplo dos Estados Unidos, que se negou
a assinar o tratado de Kyoto alegando que tal fato atingiria de forma muito
negativa a economia daquele país.
Estes
dados denunciam a problemática do padrão de desenvolvimento que tende a ser
seguido por várias nações. Entretanto, felizmente, já se observam vários
discursos repensando tal lógica de desenvolvimento ao exemplo da Economia Verde
e do desenvolvimento sustentável, de acordo com (Jorge Hargrave e Sandra Paulsen - Economia Verde e o
desenvolvimento sustentável, 2012), estas formas de pensar o
fazer econômico, considerando os limites de sustentação dos usos dos recursos
naturais e serviços ecossistêmicos são alternativas ao padrão de
desenvolvimento atual. Estes autores comentam sobre a Economia Verde que deve considerar
o esgotamento dos recursos naturais, os serviços ecossistêmicos e os limites
planetário, representando fronteiras à serem respeitadas e seriamente
observadas, assim delimitando certos padrões como o produtivo, a forma de
distribuição (acesso à alimentação por exemplo e compartilhamento de
tecnologias limpas) e mudança no tipo de consumo. Estas considerações
influenciam em questões políticas, geopolíticas, de justiça social e forma de
atuação de diversos agentes sociais em várias escalas (local, regional e
global). De acordo com estes autores, que são economistas, o processo de
mudança para os princípios e ações que embasariam uma Economia Verde não vem se
demonstrando com uma opção, mas, como bem definem, uma tendência da economia
mundial. Como exemplo do que já se vê em diversas mídias sobre divulgação do
consumo consciente, no fortalecimento do mercado do carbono, nas certificação
de produtos ecologicamente corretos em modo no norte da Europa e já em
crescimento, mesmo que de forma ainda pequena no Brasil. Essas tendências
também têm se mostrado como oportunidades de negócios, um grande mercado de
produtos certificados e também da valorização da gestão ambiental nas empresas
através das certificações ISO por exemplo, uma crescente exigência de mercado
Um exemplo não tão distante desta discussão é o “boi verde”, uma exigência de
alguns países de carne saudável e que produza baixos impactos ambientais.
Neste
ponto HARGRAVE e PAULSEN (2012), citam que o Brasil tem ai uma forte
oportunidade, aproveitando certas características produtivas que possui
atualmente, aqui incluímos a agricultura familiar que contribui com 70% da
produção de alimentos no país (MDA, 2005 em www.rts.org.br),
assim adequando-se ao processo produtivo de economia verde, aqui visualizamos
que vai por várias frentes econômicas incluindo da agricultura à industria, à
construção civil ao turismo por exemplo. Obteria-se grande parcela deste
mercado. Estes autores elencam alguns pontos que deveriam ser considerados
dentro de uma macro estratégia de desenvolvimento com bases em economia verde,
considerando o potencial ecológico e o nível de degradação ambiental pelas
atividades econômicas de cada país. Assim expõem: “a) Centralidade dos
conceitos de pegada ecológica (ou alguma variante) e biocapacidade que mostrem
o impacto ambiental não apenas dos padrões de produção mas também de consumo em
cada país; b) Pagamentos de serviços ecossistêmicos em nível internacional; c)
Esquemas nacionais e internacionais de financiamento e transferência de
tecnologias para o desenvolvimento de setores baseados na economia verde; d)
Algum tipo de precificação do carbono; e) Eliminação dos subsídios perversos,
por exemplo, aos combustíveis fósseis.” HARGRAVE e PAULSEN (2012).
Estes
autores tocam em dois pontos que concordamos que sejam primordiais para que
ocorra o que se pode definir de desenvolvimento sustentável em nível global.
Primeiramente, o papel central da educação e depois a necessidade da
preservação à níveis que permitam a dignidade e a qualidade da vida humana para
as gerações futuras do capital natural, físico, humano e social. A educação
então é apresentada como a base da construção de uma sociedade como cidadãos
eco-politizados, conscientes, críticos e capazes de solucionar desafios ambientais. E o capital natural para
a sustentabilidade do sistema.
Diversas
questões ainda estão pendentes de solução, entretanto o que já está bem claro
para a sociedade atual é que o padrão de crescimento industrial, produção e consumo
humano está cada vez mais insustentável. Os neo-malthusianos reforçam cada vez
mais sua teoria devido ao crescimento populacional mundial. São necessárias
tecnologias sustentáveis que venham substituir a matriz energética em escala
global. O petróleo além de ser extremamente degradante ao meio ambiente, como
bem sabemos, é fonte de diversos conflitos bélicos, que por vezes ficam
mascarados por bandeiras de anti-terror, anti-fundamentalismo etc.. Um olhar
atento à Geopolítica do petróleo deve ser tomado para entendermos ainda mais a
relação sociedades e natureza.
Então
qual seria o caminho a ser seguido pela sociedade? Não nos cabe aqui sermos
profetas ou qualquer coisa do gênero. O que nos cabe, como comunidade
científica e educacional é alertar sobre os usos e abusos dos recursos naturais
por parte de toda a sociedade, da residência à multinacional, de uma prefeitura
ao bloco econômico. Um exemplo gritante é a necessidade de substituição da
matriz energética petróleo, este recurso, não renovável, com seu consumo, tem
agredido o meio ambiente de diversas formas, como derramamento de petróleo, a
queima deste combustível fóssil, o uso indiscriminado de plásticos, etc.. São
fatores que nos forçam a buscar alternativas energéticas que garantam qualidade
de vida e desenvolvimento econômico sustentável ecologicamente. Eis o maior
desafio da humanidade. Prover as sociedades de possibilidades de garantir um
futuro ecologicamente equilibrado às gerações futuras.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
A
questão da relação sociedade e natureza, como já exposto, se dá de forma
diferenciada entre as diversas sociedades, sendo elas urbanas, povos da
floresta, camponeses, etc. A forma de lidar com o meio esta vinculada à cultura
da sociedade em questão. Na sociedade ocidental, em geral, a natureza “recurso”
está em pleno declínio. A falha, por vezes intencional, governamental de
aplicação das leis ambientais, a crise urbana, a queda da qualidade de vida nos
grandes centros são fatores que já preocupam vários setores sociais e já tem ultrapassado
os muros dos centros acadêmicos. Quais
as soluções hoje encontradas para este desafio?
A
tecnologia é um caminho importante para começar a diminuir os impactos causados
à natureza pela sociedade de consumo. O uso de energia renovável tende a crescer
ainda mais. Alguns países tem direcionado fortes investimentos em energia
sustentável, a caso do Japão na cidade de Minamisoma, região de Fushima, onde
se tem altos investimentos para a construção do maior parque de energia solar
deste país. Além da energia solar, as tecnologias para uso de fonte eólica,
hídrica, biomassa entre outras, têm se destacado como soluções à substituição
da matriz energética predominante, o petróleo.
Essas
tecnologias que utilizam fontes de energia renováveis são apontadas por
diversos organismos internacionais, tal qual a ONU, como o caminho para a
sustentabilidade do planeta. Entretanto ainda existem muitas “amarras” para uma
mudança no padrão energético em muitos países, no Brasil por exemplo, a matriz
energética é bem diversificada, as grandes redes de energia provindas de
hidrelétricas como Itaipu, Balbina, Tucuruí alimentam grande parte dos
municípios brasileiros, mas ainda são necessárias termelétricas, com queima de
diesel, para muitos municípios em que ainda não há acesso a energia constante
do sistema nacional.
Além
da discussão sobre a matriz energética, temos o uso de outros recursos
naturais, como a extração de minérios, a derrubada de madeira, que apesar de
ser um recurso renovável, tem sido uma área de constantes conflitos. Muito se
expõe nos noticiários nacionais sobre conflitos de terra, madeireiros e
indígenas, madeireiros e IBAMA, madeireiros e seringueiros. É certo que houve
avanços no combate a derrubada irregular de árvores em floresta nativa por parte
de madeireiros e também na “Fronteira Amazônia” na expansão do sistema de plantation de soja e pastos de pecuária
extensiva , ainda mais com uso da geotecnologia para acompanhamento e controle
de focos de derrubada e queimadas, mas muito resta a caminhar para garantir um
uso racional deste recurso à exemplo de maior apoio à atividades de
fiscalização e cumprimento da legislação ambiental; O esgotamento
indiscriminado de muitos recursos naturais, além da miséria social, tem
empobrecido a biodiversidade dos biomas brasileiros.
SOCIEDADES ECODESENVOLVIDAS
Qual
o padrão de sociedade que mais se encontra em equilibro com a natureza? Pode nos parecer utopia buscar um sociedade
em que a cultura está em total equilíbrio com a natureza. Partindo do princípio
dicotômico homem x natureza, realmente fica ainda mais difícil buscar tal
sociedade, já que a partir deste prisma a natureza deve ser subjugada pela
sociedade servindo ao seus propósitos de desenvolvimento, de seu avançar para
algum lugar, um lugar desconhecido, ao qual pelo que percebemos quanto mais o
homem pensa estar se aproximando, mais e mais vai se afastando. Pois, ao nosso
entendimento, quando na base de uma sociedade está o consumo, o individualismo
e o crescimento econômico-tecno-industrial infinito, mais este homem torna ao
outro e à si mesmo escravo. Aproveitamos aqui para citar VARELLA (Portal
Vermelho, 2009), em seu artigo Libertas e
serás também, onde escreve “Quanto vale no prato o pescado ao consumidor
final e o ganho real (dinheiro e qualidade de vida) do pescador? Quem obriga a
este homem a trabalhar duro para consumir a vida sem ganhar nada durável e à
sua mulher a esperar sentada a ver novela na TV aonde a imagem moderna chega
com seu poder de sedução ao êxodo rural e ao consumo urbano? O Homo sapiens não
sabe fazer greve à marretagem, nem tolerar seus vizinhos para compartilhar e
poupar força de trabalho... O mito da nobreza do Trabalho vai, sim, tornar esse
homem dependente do ócio de outros homens. Assim como o alienado consumidor de
lazer ignora o trabalho e miséria que ele causa na outra ponta da cadeia.”
A
natureza das sociedades não é a natureza da natureza, lembrando MORIN. Cada
cultura se vê de forma diferenciada com a natureza, para uns existe o pedido de
perdão ao derrubar uma árvore ou uma caça para a morada ou alimentação de sua
família e para outros não existe preocupação se ao derrubar milhares de
hectares de floresta para o “desenvolvimento” e manutenção do sistema
capitalista de opressão e produção, para que o status quo se perpetue para ricos e miseráveis, perde a humanidade
e seus descendentes que chorarão feito filhos bastardos que a nada lhes coube
de Terra saqueada. Por mais cruel ou louca análise que se apresente estas
últimas observações, o caminho para este cenário está muito bem aberto.
ECO ALFABETIZAÇÃO
Uma
eco-alfabetização se faz necessária. De acordo com (CITAR) a autora é necessária preparar gerações conscientes da
necessidade de equilíbrio entre sociedades e natureza. Cabe aos meios
acadêmicos e escolares, retribuir à sociedade os milhares e milhares de votos
de confiança, mesmo que sem saber, através dos impostos transformados em
investimentos públicos. É importante a
valorização inicialmente dos docentes em todos os níveis de ensino que formarão
ou aprovarão cidadãos, graduados, mestres e doutores para que tenham maior
apoio e engajamento na revolução silenciosa da educação.
Outro fator primordial é a popularização e
transformação dos conhecimentos sobre meio ambiente em ações reais e legislação
obedecida por toda a sociedade. Tal fato somente se fará possível com um
movimento de base educacional, da valorização da educação ambiental na
estrutura curricular das escolas em todas as nações. E sobretudo a estímulo ao
consumo consciente de produtos realmente sustentáveis, socialmente equilibrados
e ecologicamente corretos, à exemplo de produtos de agricultura familiar e
economia solidária. Como diz um provérbio popular, “prevenir é melhor que
remediar”, e esta prevenção está na legislação ambiental, no consumo
consciente, na valorização do conhecimento tradicional e na valorização da
educação sócio-ambiental em todos os níveis de ensino.
CONCLUSÃO
Pela
breve análise deste trabalho podemos observar que apesar da aparente separação
feita entre a natureza e a sociedade ao longo dos séculos, existe um ligação
forte que faz uma dependência das sociedades em relação à natureza. Após os
movimentos de tomada de consciência de diversos setores da sociedade, tendo
início na década de 60-70, várias ações políticas têm voltado os olhos ao
equilíbrio no usos dos recursos naturais.
Muitas
sociedades aborígenes já mostravam um uso equilibrado do meio em que viviam e
que tem por vezes tem sido, por este motivo, um ponto de referência nas formas
de uso. Entretanto em uma sociedade capitalista ainda resta muito a caminhar no
sentido de buscar esta forma equilibrada de uso dos recursos de forma a atingir
o desenvolvimento sustentável para todas as nações. Urge, lutar para que isto
venha a ocorrer e o caminho mais aberto é através da conscientização de todos
para que as futuras gerações possam usufruir de maneira adequada e também
sustentável da natureza.
As
escolas são um dos lugares para a alfabetização ecológica das sociedades
ocidentais. Cabe à nós professores auxiliar nesta maravilhoso descoberta e
re-ligação, entre pessoa e natureza.
Finalizamos
com este trecho Conforme Gonçalves (2006) em Ramos (2007), “somos testemunhas
de um tempo marcado pela eficiência da ciência, mas que tende a uma visão
catastrófica sobre a futura condição da natureza e de nosso planeta. Isto fez
com que a ecologia deixasse de ser um ideal romântico, de indivíduos contrários
a um eterminado sistema econômico vigente, para ser pertinente a qualquer ser
humano, preocupado em construir valores étic os menos antropocêntricos. Neste
cenário histórico, a revisão filosófica do conceito de natureza que se faz
essencial, é aquela que deve auxiliar a recuperar um novo sentido de liberdade,
menos egoísta e mais solidária, menos restrita ao ego humano e voltada ao
universo.”
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