segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Região na Geografia: Sua evolução.

A Região na Geografia: Sua evolução.

Moacir José Moraes Pereira
           

INTRODUÇÃO

            O objetivo deste trabalho é mostrar o que significa a palavra região, como esta se torna uma categoria de análise geográfica e quais os usos dados à este termo/categoria de análise na geografia.
            Primeiramente buscaremos discutir qual a origem deste termo e se o seu significado/função se alterou ao longo da história das sociedades. Em um segundo momento pretendemos mostrar como o termo região foi apropriado pela ciência geográfica, tornando-se uma das categorias de análise sócio-espacial. Seguindo com o texto, também buscaremos demonstrar a relação com a evolução do pensamento geográfico.

QUAL ORIGEM DA PALAVRA REGIÃO?

            De acordo com Corrêa in Amorim (2007), a palavra região teve origem/função político-territorial, sendo um termo que deriva de regio, do latim, o qual definia as unidades administrativas do Império Romano, advindo do verbo regere que significa governar.

            Podemos encontrar ainda em Amorim (2007), citando um texto de Haesbart (2010), uma referência à obra Dictionnaire Étimologique de la Lange Latine (Ernout; Meillet, 1967), onde entende-se que o termo regio tem sentido de repartir, delimitar, faz relação a bairro, região.

            No dicionário Larousse da Língua Portuguesa Mini (2005), região tem origem dos termos latinos regio, regionis, definindo: “1. Extensão territorial. 2. Conjunto de áreas vizinhas que apresentam características naturais (clima, vegetação, etc.) e/ou humanas (população, economia, etc.) semelhantes. 3. Circunscrição administrativa bastante extensa. 4. Parte do corpo.”.

            Em Lucci e Branco (2010), uma obra de ensino de geografia, observamos termo região apresentando-se pela ação, ou processo de regionalização, posto como percepção ou decisão humana de criar e/ou perceber regiões, expõe desta maneira:

“Determinadas áreas da superfície terrestre apresentam características naturais, históricas, culturais, sociais e econômicas que estão relacionadas entre si. Cada área dessas podemos denominar de região “
Lucci e Branco (2010)

Estes autores ainda aprofundam escrevendo:

“Há diversas formas de regionalizar o espaço mundial. Pode-se por exemplo, dividi-lo com base nos continentes: América, Ásia, Europa, África, Oceania e Antártida; ou a partir dos níveis de desenvolvimento econômico e social dos países: desenvolvidos e subdesenvolvidos. Assim, a regionalização é a divisão do espaço geográfico em regiões, em partes menores, de aspectos naturais, culturais e socioeconômicos comuns”
Lucci e Branco (2010)

A REGIÃO NA GEOGRAFIA

            A região e seu processo de criação pelas políticas dos diversos governos e estratégias do capital são denunciados por Santos (2011), quando escreve no capítulo Planejando o Subdesenvolvimento e a Pobreza:

“A ciência regional e o planejamento eventualmente se fundiram. Hoje é praticamente impossível encontrar em periódicos especializados um artigo teórico ou mesmo uma análise sobre o espaço social visto como um todo.”
Santos (2011, p.21)

            Amorim (2007, p.3) nos leva a refletir sobre a função política da regionalização apoiando-se em Milton Santos, reforça a denúncia do processo de regionalização como ferramenta de apoio para a acumulação capitalista, criando, abundância e escassez, dividindo e especializando o território de acordo com os interesses dos Estados e Capital, formando o desenvolvimento desigual e combinado.

            Para este autor a expressão região tem sido empregada por várias ciências, como também, pela sua incorporação nas sociedades ao longo dos tempos, já faz parte do senso comum, sendo assim uma referência a lugares que se assemelham ou que se diferenciam uns dos outros. O autor escreve, “A categoria região é de uso corrente, está disseminada na linguagem comum e na científica. Ela foi incorporada no nosso dia-a-dia e possui um peso específico na estrutura conceitual.” Amorim (2007).

            De acordo com Lencioni in Amorim (2007), pode-se considerar que Estrabão fora “a nascente” de que se poderia definir com uma geografia regional, pois, de acordo com a autora, o mesmo utilizava-se de diferenciações territoriais para o estudo das civilizações.

            O estudo das regiões desde a origem da geografia como ciência, se vincula às diversas formas de se buscar entender o espaço, em diferentes escalas, em diferentes momentos históricos. A geografia como ciência destacou a importância do estudo da região.

            Alguns autores destacam que a consolidação do estudo da região e esta como categoria geográfica, representou, e faz um importante paralelo, com a própria evolução do pensamento geográfico. Esta importância da análise pela região passou da geografia clássica com La Blache, Ratzel, até mesmo Kante (Carvalho, 2002, p.3), a nova geografia, com Hartshorne, a geografia crítica, a geografia humana, a geografia cultural e também com “as geografias pós-modernas” com Edward Soja por exemplo, vão nos mostrar esta evolução.

            Na geografia clássica podemos encontrar a definição de região natural de Ratzel e seu contraponto pela região geográfica de La Blache, este último definia que ao geógrafo seria importante descrever para entender as características da região.

A “EVOLUÇÃO DA REGIÃO”

            Para Carvalho (2002), quando o elemento homem ou sociedade passa a ser considerado, quando a relação homem e ambiente se faz presente, que a análise regional inicia a sua complexidade. Esta autora expõe que Hartshorne define que a região se dará pelo contructo do pensamento humano, pelo o que se que perceber, pelas entidades sócio-espaciais que se quer estudar, assim contrapondo-se à região concreta de La Blache.

            Percebe-se assim, um salto qualitativo para o próprio conceito de região, “evoluindo” ousamos. Na Nova Geografia, Carvalho (2002), dá-se a região a condição de ferramenta de estudo, baseando-se em métodos estatísticos, matemáticos, a região serve para assim dizer, atividades, objetivos políticos e administrativos dos estados. Conforme a autora nasce a tendência a classificação das regiões em “homogêneas, funcionais polarizadas, administrativas de forma sistemática. Constroem-se regiões cristalizadas no tempo e no espaço”.

            Na Geografia Pragmática, a região é preenchida pela ideologia da dominação capitalista, de “ordem e progresso” dos Estados-Nações. Em oposição na Geografia Crítica a região aparece como um mecanismo de ação política na intervenção do espaço (Carvalho, 2002).
            Avançando na análise encontramos ainda em Carvalho (2002)  a percepção de região na Geografia na atualidade, definindo que não haveria uma padrão para a análise regional, ou corrente específica, mas uma pluralidade de percepções, diversas possibilidades em função dos processo técnicos-científicos-informacionais (Milton Santos) da globalização, é o momento do simultâneo, obedecendo-se as escalas de análise, o estudo regional pode ser então privilegiado.

CONCLUSÃO
            Podemos, desta maneira, perceber que as formas de abordar a categoria região, na geografia tem sua relação direta com o momento histórico e as correntes geográficas e científicas como um todo.  Assim o conceito de região fora analisado e questionado por importante geógrafos que contribuíram para sua formulação, desconstrução e reformulação. No pensamento de La Blache a região era uma realidade concreta, um “corpo vivo” pré-existente que deveria ser descrito. Para Hartshorne era fruto da construção sócio-espacial, origem do conceito de espaço geográfico, tendo influência de quem faz a análise ou a regionalização. Corrêa in Amorim (2007), a região fica associada a diferenciação de áreas, sendo este, construído e reconstruído ao longo da evolução das sociedades, assim sendo um conceito-chave do moderno pensamento geográfico tal qual paisagem, espaço, lugar e território. Completa que esta é criada por um objetivo claro de gestão ou percepção dos espaços. Para a Geografia Crítica podemos perceber a região para a análise e denúncia das desigualdades sociais e regionais nos países.
            Amorim (2007) escreve: “Parece-nos que nem todos os recortes regionais podem ser caracterizados, de fato, por regionalizações, pois o que pudemos constatar em nosso trabalho, é uma mesma identidade territorial, marcada por uma divisão do trabalho, por características culturais, de ordenamento do território que perpassa os recortes estudados. Esta identidade territorial, como já destacado por vários dos autores supra-citados é elemento importante na definição das regionalizações.” A região desta forma não possui fórmula ou modelo de construção, independe de método pronto, a região pode e dialogar com outras categorias como o território em sua característica de afirmação de populações, com a cultura, com a paisagem. De acordo com Amorim(2007), é através da região que se faz possível a territorialização do Estado, através do ordenamento para implantação das políticas públicas e de gestão do espaço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

            Carvalho, Gisélia Lima. Região: A evolução de uma categoria de análise geográfica. Boletim Goiano de Geografia, volume 22, nº 01, jan/jun 2002.
            Amorim, Cassiano Caon. Discutindo o conceito de região; Estação científica Online; Juiz de Fora, nº 04, 2007.

            Lucci, Elian Alabi & Branco, Anselmo Lázaro. Geografia: homem e sociedade. São Paulo, Saraiva, 2010.

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